Uma vez forçados a retirar-se de dentro do Parque para zonas periféricas, as comunidades intensicaram as práticas agrícolas porque a alimentação baseada na carne foi se tornando reduzida. Os animais começaram a ser protegidos por fiscais para mais tarde servirem como um bem comum para todos os moçambicanos e o mundo inteiro. Então, a agricultura tomou lugar de destaque na economia de sobrevivência da região do grande Ecossistema da Gorongosa. Mudou-se, grande modo, das vítimas das acções humanas para a sua sobrevivência. Os humanos naturais transitaram de uma alimentação baseada na proteina animal para a vegetal, ou seja de caçadores e recolectores para seriamente sedentários. E a colonização portuguesa acelerou a sedentarização pela prática forçosa da agricultura. A colinização exigia que os nativos produzissem mais para vender mais. Assim os nativos conseguiam pagar uma gama de impostos, um dos quais era o imposto sobre a palhota (vulgarmente conhecido por Mussoko). A necessidade de pagar impostos não apenas acelerou a prática da agriculruta, como também forçou a que muitos homens nativos pautassem por práticas de poligamia (ou plurigamia se convier usar este termo). Com a poligamia, as várias mulheres ajudariam o único marido a conseguir mais produtos agrícolas para vender e pagar os impostos. Enquanto de um lado as mulheres iam ajudar o homem-marido, por outro, a aquisição da mulher-esposa implicava pagamento de bens ou produtos ao pai da esposa. Assim, o pai da nova esposa conseguia com que pagar o seu imposto de palhota naquele ano em que mandasse casar a sua filha. Desta forma iniciou-se um circuito vicioso de vender meninas em casamentos pré-maturos. Os homens que as precisassem pagariam aos pais, e estes obteriam algum ganho com a prática. Muitas das vezes a menina era casada antes de ter alguma experiência sexual. Os casamentos pré-maturos depois associaram à vontade de o homem ser o primeiro a desposar a menina. Isto desprovia a menina de experiência sexual o que, na altura, contribuia para maior fidelidade ao marido. Claro, uma fidelidade movida por ignorância e não por consciência clara e respeito.
Enquanto as novas exigências sociais foram criando uma nova maneira de viver em comunidade, nem os colonizadores, nem os colonizados se deram contas das mudanças drásticas que criavam ao meio ambiente: a mudança das suas principais vítimas. O centro da vida virou da fauna para a flora e iniciou-se um abate desenfreada da flora o que veio a culminar na catástrofe que hoje se assiste em todo o Ecossistema da Gorongosa. Com as guerras os nativos foram descobrindo melhor abrigo e refúgio no topo da Serra da Gorongosa iniciando um processo de aberturas da floresta tropical para dar espaços a casas, quintais, machambas, etc. À medida que o número de residentes no topo da Serra se foi multiplicando, reduziu-se o nível de água que corre a abaixo. Desta forma, entrou-se numa crise que hoje já não apenas circunscrita ao Ecossistema da Gorongosa, mas sim global, originada por práticas agrícolas menos sustentáveis que deveriam ser mudadas para se ajustarem aos desafios de superpovoação e o desejo de sustentabilidade. Os mais de 54 Ecossistemas da Gorongosa estão agora na maior crise já mais vista.
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