sábado, 23 de outubro de 2010

Um 12 de Outubro festejado diferentemente por professores na Gorongosa

V Livro

12 de Outubro de 2008.
NA GORONGOSA HÁ TEMPO PARA TUDO!

Capítulo  1
Às vezes é preciso dar pausa e olhar para trás

Geralmente, para quem gosta de contemplar, quer o ciclo da natureza pura, quer o ciclo da criação humana por aqui na Gorongosa, não é raro concluir que existem momentos diversos. Há para isso momentos fortes e fracos como os dias e as noites, momentos de muito calor como nestes dias e os de muito frio como os meses de que sentimos saudades agora (pelo menos na Gorongosa é assim), as folhas rebentam novas e frescas nas árvores e depois caem cansadas de servir a própria mãe árvore, a humidade convida formigas por terrenos baixos num tempo e no outro só se vêm formigas quando anunciam mau tempo e chuvas! etc.
Os homens também há momentos vários; de nascer e de morrer, de planificar e construir opostos aos de planificar e destruir, de amar e os de odiar. Há um dualismo em muitas coisas naturais e mesmo nas coisas fruto da inteligência criativa do homem.
Queira tomar como exemplo de vários momentos de percurso, a história da vida do Parque Nacional da Gorongosa que de 1920 a 1940 teve-se um momento muito forte de planificação. De 1941 a 1959 marcado por um momento muito forte de construção de infra-estruturas turísticas, divisão de actividades por grupos diferentes, todos apostados a fornecer um serviço melhor para os turistas e apaixonados pelas paisagens míticas, lendárias, imponentes do Grande Vale do Rift no seu extremo sul!
De 1960 a 1980, época do pico do gigante e monstruoso Parque, que ameaçou com a sua diversidade animal,  os vários mundos de conservação. A flora, os pássaros, os répteis grandíssimos (os crocodilos), entre outra beleza natural exclusiva tornaram deste Parque soberbo, bastante expressivo. E neste mesmo período o Parque conheceu um número de turistas e aventureiros assustador em recordes.
Não obstante os esforços,  entre 1976 e 1981 estava-se a planificar o fim do mito da Gorongosa. Entre 1981 e 1994, efectivou-se com sucesso o plano da destruição da fauna bravia que constituiu símbolo indiscutível  de Moçambique!
Prosperaram as plantas, porque poucos podiam ter tempo de cortar árvores, capinar, queimar, trepar a Serra. Reinava o aumento do trauma pelas violências militares, durezas da vida, medos e receios da morte, humilhações, discriminações, entre outras formas de trauma.
Entretanto, podemos considerar que de 1994 a 2002 planificou-se a reconstrução da fauna. De 2004 a ....(talvez 2038!) reconstrói-se efectivamente a fauna do Parque Nacional da Gorongosa através de apoios da Carr Foundation com introduções consecutivas de várias espécies de animais como búfalo, boi-cavalo, elefante, hipopótamos, zebras, etc, no ora empobrecido Parque da Gorongosa. Depois, sem dúvidas virá a destruição novamente. Há tempo para tudo!!!!

Capítulo  2
Dia dos professores, 12 de Outubro

 Também os professores da Gorongosa se deram tempo fora das salas de aulas, desta vez não para participar em seminários de capacitações, formações diversas, excursões com alunos, receber salários, mas para uma reflexão conjunta, em convívio com alunos, colegas, pais e encarregados de educação, e toda a comunidade da vila da Gorongosa, sorrindo, dançando, contando anedotas, bebendo alguma cerveja nas barracas da Gorongosa, etc.
Professores em direcção à Praça dos Heróis. Cantar caracteriza encontros de muita gente. Foto por DJMuala.

O cenário acima marcou o início de um dos momentos marcantes da vida dos professores na vila sede da Gorongosa. Por volta das 9 horas do dia 12 de Outubro de 2008, professores reunidos e organizados em fila, assistidos pelo governo distrital e algumas estruturas locais como se verá na foto abaixo, os professores fizeram uma procissão da Escola Primária Completa 3 de Fevereiro para a praça dos heróis local, numa distância de quase 600 metros.
Os dirigentes da cerimónia de 12 de Outubro de 2008 esperando pela chegada da procissão

Os professores da Gorongosa e seus dirigentes locais, unanimemente, decidiram marcar o seu dia (12 de Outubro) com actividades diferentes das rotineiras em salas de aulas espalhadas pela vila e periferias.
Ao longo dos variados momentos do dia dos professores na Gorongosa, houve tempo para a deposição da coroa de flores na praça dos heróis Moçambicanos como é de hábito em qualquer cerimónia oficial na Gorongosa:

Em cima, Bonezi João Catique Ráiva, secretário distrital da ONP (Organização Nacional do Professores) encarregou-se de depor solenemente a coroa de flores na praça da vila, esta vila da Gorongosa que aspira pela municipalização breve.

Outro momento foi o da segunda procissão igualmente ordeira para o lugar costumeiro para discursos dos dirigentes e alguns ilustres do dia. O lugar, conhecido por FUMASO, fica a quase 500 metros da praça em direcção à Beira, foi percorrido com muita emoção e cantos, pela maioria enquanto os dirigentes e alguns destacados se deslocaram em viaturas próprias.
Procissão para FUMASO. Foto por DJMuala.

Já no recinto habitual (do FUMASO) alguns momentos foram preenchidos por canto e dança e apresentações culturais várias;
Professoras e professores da EPC 1º de Maio, uma das escolas da periferia da vila, apresentando seus cantos. Foto por DJMuala.

Foi uma pausa considerada importante e necessária como se pode ver do discurso do administrador local, João Oliveira:
João Oliveira, Administrador do distrito da Gorongosa, discursando-se sobre a data do professor. Foto por DJMuala.

´´O professor é a nossa luz porque é ele quem nos ensina a usar devidamente a língua da unidade nacional. É ele quem nos ensina o saber ser, fazer e estar. Se não fosse o professor , cada um de nós aqui presentes estaria a usar a sua própria língua materna e talvez tivéssemos muitas dificuldades de comunicar com eficiências
                                                           João Oliveira, no Fumaso em 12.10.08
Mais de 1000 pessoas entre professores, estudantes, pais e encarregados de educação, diversos convidados estiveram presentes neste recinto no dia 12 dos Professores.
Mapadza, uma dança tipicamente local mais frequentes em comerações festivas e recepções de líderes. Foto por DJMuala.

Mapadza, uma das danças típicas da Gorongosa, nunca se fez ausente em momentos de alegria, convívio e paz mesmo com o escaldar do sol do dia.
Em gesto de simpatia com os professores, escrevi-lhes o poemeto abaixo:

Caro professor da Gorongosa

Tu és a luz para novas almas
Assim que novo ano começa,
És a direcção para novos ingressos
Que vão conhecer a escola pela primeira vez.

Professor, de ti se espera a paz no pai
Sempre relaxado
A frustração para as mães e empregadas
Porque só elas têm total cuidado da criança.

Professor da Gorongosa, de ti se espera a luz para novas almas
tu és a luz para os novos ingressos
A luz para adolescentes, jovens e
Velhos que o curso nocturno desafiam
Na conquista de um certificado para a promoção salarial nos seus empregos.

És tu a causa de afirmação social
És tu o que hoje eu sou
Sem tu eu não seria ...
Sem professor tu não serias professor!

Falo de ti óh Marufo
Falo de ti óh Mapossa
Também tu óh Gito
Sem me esquecer de ti óh Dumba...

Meu caro professor
Esforça-te esforça-te
A ser realmente o que espero de ti
O que o René espera de ti
O que o ministério espera de ti
O que a nação espera de ti.

Contigo as crianças abrem-se ao mundo
Do alfabeto
Da contagem
Das horas
Do gosto pela arte.

Tu inspiras
nas crianças
Nos adolescentes
Nos jovens
Nos velhos do curso nocturno...

Tu promoves a iniciação à cultura de raciocínio
Mais activo da interpretação dos fenómenos naturais

Professor, tu inspiras a cultura de paz
De harmonia
Entendimento
Compreensão
Democracia.

As palavras que ensinas

Estudar
Aprender
Resolver
Calcular
Exercitar
Tpc.

Discutir
Em grupos
Investigar
Consultar
Analisar...

São exemplos de palavras que sempre
Bem alto gritas
Quando entramos na sala da Escola Primária
Três de Fevereiro
Nhamissongora Rio
...

Também na Escola Primária Completa
1 de Maio
De Mapombué
De Nhambondo
De Matchisso
De Nhataca
De Vunduzi...


Também assim ouvi ti gritar na Escola Secundária
Cristo Rei da Gorongosa
Eduardo Mondlane.


Com essas palavras tu
Incutes em mim
O princípio da lógica
Matemática
Do raciocínio.

Despertas em nós
O interesse pela diferença
A análise da realidade.
O princípio da responsabilidade
E da autonomia.

Tu que formaste em tempos diferentes
Os governantes
Naturais da Vila Paiva de Andrade
Naturais da Vila da Gorongosa.

Formaste em tempos diferentes os intelectuais
De Sofala
Da região Centro de Moçambique
Do Belo Moçambique
Os intelectuais do mundo inteiro.


Caro professor
Nós na Gorongosa
Contamos contigo para
O cumprimento das nossas metas
Tanto neste quinquénio
Como nos próximos quinquénios

Tu serás sempre uma parte integrante dos nossos programas à nível
Dos pólos de Desenvolvimento
Da província
Da nação toda

Tu terás sempre o prestígio social
Inerente à tua posição
Ao teu papel de espelho
Da humanidade.

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