sábado, 23 de outubro de 2010

Uma tentativa de recuperar a Serra da Gorongosa envolvendo o nativo do sacrossanto.

VI Livro

06.11.08, sexta-feira.

Parque Nacional da Gorongosa
Aposta no pessoal local para a conservação da biodiversidade da Serra

Capítulo 1
Cada um é produto e produtor do seu ambiente

Ciente de que cada um se enquadra melhor no seu ambiente habitual, onde partilha com a maioria as mesmas raizes, tradições, usos e costumes, hábitos, crenças e até perspectivas, Regina Cruz, gestora do Programa de Conservação Florestal na Serra, apostou no emprego de pessoas locais para agentes de conservação da Serra.
Das várias vezes que sentámos para estudar o assunto juntos, viajámos para o terreno. Das tantas vezes que ela se reuniu com as autoridades administrativas e com os líderes tradicionais locais, Regina manteve a sua posição de sonhar implementar um sistema rotativo. Com a rotação de agentes, talvez de seis em seis meses, a população da Serra terá muita oportunidade de partilhar suas experiências locais com a gestora e aprender desta, gestora, outras técnicas modernas de conservar o natural, como combater a erosão, evitar queimadas descontroladas, abandonar o abate desregrado de árvores.
            E mais, Regina acredita que os residentes são, na sua maioria, os mesmos que, por força da tradição e desconhecimento dos perigos que causam pelas práticas agrícolas menos sustentáveis, dizimam a floresta tropical característica no maciço que deu nome ao Distrito e ao Parque.
Na verdade, se muitos praticantes da agricultura de subsistência, por aqui, perceberem o perigo das suas práticas em relação a sustentabilidade, e se encontrarem uma alternativa para continuarem a sobreviver, pode-se esperar que alguma mudança aconteça.
Sempre concordei com esta ideia dela. Uma mudança social consistente é aquela que é operada de dentro para fora. Usando as próprias pessoas que necessitam de mudar como actores da mudança interna. Estas pessoas só precisam de ser despertadas da caducidade dos seus hábitos e propostas novas formas, melhores, interessantes para elas, fazíveis no seu contexto e que lhes rendam mais resultados. Nenhuma mudança social devia ser trazida de fora para dentro, porque causa problemas de várias ordens e resulta em acidentes múltiplos e contínuos. A crise no Médio Oriente e a consequente crise económica mundial são exemplos de tentativas de introduzir mudanças idealizadas e maquinadas de fora para dentro. E pela regra, o Médio Oriente é a segunda África, esta descoberta na tentativa de se chegar àquele. Enquanto os nascidos fora de África têm a obrigação moral de saudar o berço da humanidade, os nascidos fora do Médio Oriente têm a obrigação moral de respeitar aquele berço da energia (comida, sexualidade, religiões monoteístas, combustível, intelectualidade, comércio, etc.). Embora não nos situamos há cerca de 22 milhões de anos atrás, a era da Pangeia, ignorar politicamente este vector social, seguros no idealismo, é comprometermo-nos para a rendição pois uma agitação do Médio Oriente sempre resultou em crise mundial. Pena é que só passados 80 anos, a humanidade voltou a cair no mesmo erro do mercado– crise económica mundial. Espero que desta vez os efeitos não sejam os mesmos de Outubro de 1929 onde milhões de pessoas perderam seus empregos, negócios, poupanças, habitações, etc. Seria uma segunda humilhação para os ainda vivos que atravessaram o fracasso intelectual de seus pais voltarem agora a reviver o seu próprio fracasso em modelar o mundo pela via de partidos políticos. O partido político do homem devia ser o próprio homem, a ideia originária e frustrada do mentor do monoteismo. O apoio mórbido de personalidades como Jesus Cristo, Maomé, os Arianos mentores do Dharma com o seu Shiva, o Buda, os siks, o Moisés, os xintoístas, o Kung Fu-Tse, o Lao-Tse, eram esforços de tornar TODOS pertencentes ao mesmo partido idealista. Seus insucessos resultaram em multipartidarismos religiosos, um Babel desmoronado, uma linguística confundida, uma ciência, isto é, uma imperfeição. Na mudança dos hábitos vivenciais internos da Serra da Gorongosa está a Regina, empregue por Greg Carr, a tentar construir seu partido único – de agentes locais de conservação da Serra!      

Capítulo 2

Mais oportunidades de empregos pelo Parque Nacional da Gorongosa

Disseminação de mais conhecimentos e práticas sustentáveis na conservação dos recursos naturais.
Há mais de um ano que uma engenheira florestal, a moçambicana Regina Cruz, se enamorou com o Parque Nacional da Gorongosa (PNG) na gestão dos programas de conservação da Serra da Gorongosa.
Depois de doze meses de trabalho com dois grupos (de quase 20 elementos cada) sedeados em Nhancuco e Canda respectivamente, a gestora Regina Cruz decidiu abrir duas novas frentes em torno do tema da conservação do maior património natural de floresta tropical na África subsaariana - a Serra da Gorongosa.
 Ocupando uma área de quase 640 km2, e padecendo de um desflorestamento assustador nos últimos 16 anos após a guerra civil, a Serra viu a sua parte leste a beneficiar-se de um programa intensivo de conservação caracterizado por reflorestamento das partes encarecadas, prática de aceiros, combate a queimadas descontroladase, (pode se descrever sucintamente aqui o que já se fez em torno dos programas de conservação em Canda).

Porém, a Serra é mesmo vasta e abrange três regulados: Canda à leste, Tambarara na parte central e Sadjunjira à oeste.
Para Regina Cruz, conservar a Serra é integrar todo o maciço e não só concentrar-se em Canda, meta que ela espera alcançar trabalhando dia após com as comunidades locais, fazendo-as perceber os problemas, partilhando com elas experiências de conservação, envolvendo-as em todas as vertentes.
Para tal, Regina lança sua campanha de conservação para a zona oeste (em Sadjunjira) e segundo ela, Tambarara (que ocupa a zona central da Serra) será o último regulado.
Da esquerda para direita a equipa do PNG: Inácio Tomás, Wilson Abdula e Regina Cruz planificando. Foto por DJMuala em 06.11.08.

Capítulo 3
Seleccionar é sempre difícil

Depois de uma rápida concertação da equipa do PNG, acima, prestes a avaliar os candidatos, seguiu-se para a segunda planificação com três chefes de povoação locais que se fizeram presente no dia 06 de Novembro corrente. Regina começa por envolver os líderes locais seguindo para às povoações nos programas de conservação da Serra. Neste caso específico e ciente de que trabalhar na Serra todos os dias a subir e descer não é algo fácil, a gestora envolveu os chefes de povoações na selecção de seus elementos sérios, trabalhadores e responsáveis.
Na foto estão para além da equipa do PNG daquele lado, os chefes locais: Nahuliri, Nhatsapa e Cavalo, deste lado. Foto por DJMuala em 06.11.08

Pouco depois, todos os avaliados já se tinham aglomerado fora da sala de avaliação a espera de serem chamados, um por um, para a entrevista, a partilha do seu entender da problemática de desflorestamento da Serra e crises locais de conservação.
Inácio Tomás (de jeans azul e camiseta preta, em paralelo à árvore) organizando os candidatos antes de começar a entrevista. Foto por DJMuala.

Capítulo 4
O supervisor Inácio Tomás

Inácio Tomás (um dos supervisores que eventualmente trabalhará com os que se apurarem aqui) teve um papel muito activo no dia. Evitando ter colegas preguiçosos, menos interessados no trabalho e mais no salário, Tomás fez tudo por tudo desde a organização do grupo fora da sala de avaliação, participou nas entrevistas fazendo exames psicológicos intensos desde as respostas até à maneira de apresentação física dos candidatos. Avaliava-se um por um.
Na sala de entrevistas, um candidato a ser entrevistado para vaga de agente de conservação da Serra. Foto por DJMuala.

Sempre que um acabasse de partilhar a sua experiência entrava outro do grupo e as perguntas eram diversas todas sobre os temas de conservação e sensibilidade que os candidatos tinham sobre o estado crítico da Serra.
Curiosamente, todos percebem o problema, embora nada conseguiam fazer individualmente para contornar a situação. Um por um a avaliação continuou até perto das treze horas.
Capítulo 5
Fuga de informação numa avaliação colectiva

Fraudes nunca faltam neste tipo de avaliação: cada um que vinha para entrevista consultava os primeiros o teor e âmbito do questionário que os avaliadores faziam. Deste modo, os que vieram depois dos primeiros já podiam prever as perguntas que lhes seriam feitas. É assim a lógica da vida; procurar solucionar problemas actuais e futuros com base em experiências passadas (afinal a academia não é só propriedade das Faculdades Universitárias todo o ser humano consciente procura resolver seus problemas actuais e futuros a partir de experiências passadas!!!) obrigando a que os entrevistadores fossem mais criativos que presos ao questionários pré-elaborado.
Um por um, os candidatos vão concentrados e voltam relaxados da sala de entrevistas. Foto por DJMuala.

Perto das treze horas já tínhamos conseguidos avaliar todos os presentes com excepção da povoação do chefe Massala cujo chefe não se fez presente. Inácio Tomás teve a responsabilidade de voltar ao grupo e anunciar a lista dos candidatos apurados.
 
Inácio Tomás anunciando os nomes dos apurados do dia. Foto por DJMuala.

Enquanto se anunciam os resultados finais, a engenheira e o Wilson vão ao mercado comprar alguns refrescos e chips para se engolir algo. Algum cansaço e fome tomavam conta dos presentes. É quase cultural, a todos os níveis, ingerir-se algo durante ou depois de um encontro longo, e naquele lugar, não só éramos produtos como também produtores dessa cultura.
Perto do carro, Regina e Wilson vão ao mercado comprar algo comestível. Foto por DJMuala

Capítulo 6
Qualquer serviço

Trabalhar é um desejo de muitos aqui em Sadjunjira pese embora a maioria dos concorrentes não tenha nenhuma formação específica e certificada. Não existe localmente instituições de formação, só escolas que ensinam a rabiscar no papel branco o alfabeto. Todavia, quando se anuncia vagas todos afluem com algum documento ou testemunha. Aqui também existe um nepotismo amorfo! Familiares, amigos, colegas, conhecidos não faltam no grupo dos concorrentes. Todos querem trabalhar mesmo sem formação específica e quando perguntados a área que desejam trabalhar a resposta anda na ponta da língua: qualquer serviço.
Engenheira Regina Cruz proferindo algumas palavras de felicitação aos 17 apurados. Foto por DJMuala.

Da esquerda para direita estão os oito apurados. A penúltima pessoa é o Tomás e a última é o senhor Mário Faera, chefe de povoação de Nhauliri.
O homem de pé à esquerda marca o princípio da fila dos 9 apurados sentados deste lado. Os primeiros dois são chefes de povoações de Cavalo e Nhatsapa respectivamente. Foto por DJMuala.

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