sábado, 23 de outubro de 2010

Nhancuco, a comunidade mais próxima das Cascatas de Murrombodzi, encontra no Parque Nacional da Gorongosa uma ponte para conseguir uma escola convencional!

 III Livro

23 de Julho de 2008
SÓ SENTE POR NHANCUCO QUEM REALMENTE A ENTENDE COMO A Carr Foundation, PNG

Capítulo 1
                                                   A sorte

A sorte para esta comunidade, desta vez, é de um estabelecimento de ensino convencional que o PRPNG intermediou ao trazer personalidades sensíveis do Millennium BIM em visita da comunidade e do seu forte potencial ecoturístico.
Nhancuco, uma das comunidades do interior da província de Sofala junto à Serra da Gorongosa, viu uma das suas desgraças conhecer solução a partir da sua amizade e colaboração com o PRPNG nos programas de reflorestamento da Serra e conservação dos recursos naturais ainda existentes nesta região. Tal como a comunidade de Vinho, vizinha do acampamento de Chitengo no PNG, que passou a ter uma escola e um posto de saúde graças ao PRPNG, Nhancuco já tem quatro salas de aulas convencionais.
O PRPNG, cuja grande vocação é combinar as promoções da conservação da biodiversidade do Grande Ecossistema no sul do Vale do Rift e do desenvolvimento humano das comunidades, em compensação do bom entendimento com tais comunidades tem vindo a convidar personalidades, visitantes e turistas para o Parque e para as comunidades da sua zona de desenvolvimento sustentável (CZDS) -´zona tampão´. Nhancuco é uma dessas CZDS que tem já muitos viveiros de plantas nativas que o PRPNG usa para reflorestar as partes da Serra encarecadas. Muitos dos visitantes dos viveiros e cascatas sobre o rio Murombodzi que preferem passar via Nhancuco acabam entrando em contacto directo com as carências desta comunidade e alguns comprometem-se a dar a sua ajuda para mitigar tais carências locais como se testemunha aqui e hoje. O mesmo assistimos no dia 24 de Junho de 2008, no Vinho, na presença da Sua Excelência Presidente da República de Moçambique Armando Emílio Guebuza e sua comitiva como no dia 14 de Junho de 2008, se presenciou, diante do governo do distrito da Gorongosa e da província de Sofala, a entrega dos 20% de receitas do Parque para a comunidade de Nhambita, no regulado de Chicare, zona tampão do PNG.

Entrega de um cheque de 88,623,95 mt. Por DJMuala, Nhambita 14 de Junho de 2008.

Testemunhada a inauguração e entrega de quatro salas de aulas modernas para nós, gente local aqui reunida hoje, 23 de Julho de 2008: mulheres, homens, crianças de Nhancuco, num mesmo lugar, apesar da nossa tradicional tendência de organização grupal na comunidade: as mulheres com bebés no colo concentram-se mais de um lado;
             Mulheres estão mais para a esquerda. 23.07.08, por DJMuala.

Capítulo 2
                                       É cultural, mas não só!

Há quem acredite que é curioso ver este cenário: quase a maioria das senhoras aqui presentes têm bebés no colo, ou a amamentar ou ainda grávidas. É mesmo raro encontrar alguma senhora que não tenha bebé e que não esteja a gestar, cá mais para interior da Gorongosa.
Em Nhancuco dormimos cedo. Logo que o sol se deita, nós também nos deitamos. A calma da noite, tão inspiradora da ciência do raciocínio humano, é para nós uma continuidade de actividades puramente biológicas, ligadas aos instintos fortes. A escuridão assume alguma cumplicidade neste comportamento. Também faltam-nos entretenimentos constantes senão à volta de fogueiras onde os mais velhos, se aí estiverem e não embriagados de nipa, cabanga, tchiacutchena[1], ou qualquer outra bebida, vão contando aos mais novos o tchintankano (conto popular a volta da fogueira) num compasso de espera pelo jantar e logo após este, só para uma ligeira digestão.
Dias de festa são poucos quando a monotonia sofre alguma ligeira brecha. Os nossos trabalhos, duríssimos e diários nas machambas muito férteis, contribuem para ao cair da noite rapidamente nos sentirmos bastante fatigados e com a pressa para a tarimba (cama local feita de estacas espetadas no chão), esteira, manta durante os 120 minutos mais fortes do sono. Porém, o cansaço trazido das machambas externas não nos escusa de cultivar e semear com zelo e dedicação a fertilidade das machambas internas. Cultivamos e semeamos juntos nas machambas adentro, várias vezes na mesma noite tão longa e calma, e quase todas as noites que tivermos saúde para tal. Estas noites controladas pelo pôr do sol para nós e pela iluminação, diversão e feitiço do alfabeto para outros Moçambicanos.

Capítulo 3
Machambas nocturnas, machambas nocturnas!

Às vezes são muitas machambas principais que se têm que cultivar num regime de rotação semanal. As tantas machambas não dispensam, em muitos casos, as hortas mesquinhas ‘chindes[2], como as mindas (machambas) várias vezes têm tolos (pequena baixa húmida para hortas) e até dimbas (grande baixa húmida). Ter uma ou várias machambas principais não escusa ter hortas. As vezes, cada machamba principal de um senhor é horta de um outro que faz a manutenção enquanto o dono vai cumprindo a sequência das outras machambas e hortas na série dele, porta sempre aberta ao colono deste século – o famoso e discreto HIV.
A assiduidade nocturna comprova-se nas fotos; nossas mulheres todas com crianças sucessivas e outras senhoras grávidas a espera de nascer. Este é o ciclo costumeiro, cultural, dogma que um dia as quatro salas irão questionar. A vinda de um posto médico para Nhancuco monitoraria o planeamento familiar que ainda está a deriva na consciência e na concepção do viver daqui em Nhancuco. As crianças são uma grande riqueza e não um encargo para educar. As crianças ajudam na machamba e em outras actividades caseiras como buscar água, lenha, varrer o quintal, cuidar dos mais novos, levar produtos da machamba para casa, para moagem, frutas para vender no mercado, etc, e não roubam emprego de ninguém que não teríamos dinheiro para pagar ao fim do mês. As crianças ajudam desde crianças e ajudam mesmos quando adultas. Os direitos da criança daqui são mais os seus deveres em relação ao cumprimento desta ou daquela actividade que se espera que ela faça. Se ela por rebeldia falhar ao cumprimento de uma das suas tarefas temos para ela várias opções: um chicote, porradas, retirar-lhe uma refeição ou seja puni-la com torturas físicas fortes. Esta é a nossa educação no contexto costumeiro e sempre deu resultados positivos: incutir e transmitir para gerações novas os valores tradicionais locais.

Capítulo 4
Circunstância por circunstância

Os homens gostam de ficar do lado deles em algumas circunstâncias. Na foto abaixo eles concentram-se mais do lado direito. Portanto, de dia e sobretudo em ambientes mais públicos os homens comportam-se como inimigos das mulheres, aí submissas aos bebés e descalças, separação quase natural não reclamada. Noutra circunstância, os homens em Nhancuco são colegas inseparáveis das mulheres com as quais forjam os machambeiros, e outros profissionais de amanhã!
Os homens estão mais para a direita. 23.07.08, por DJMuala.

Capítulo 5
Também as crianças têm circunstâncias aqui em Nhancuco

As nossas crianças geralmente encostam o lado que preferirem em eventos populosos; mas à medida que crescem não abandonam a aprendizagem por imitação, vão se identificando mais com sexos idênticos e ainda por imitação aprendem as actividades tidas como específicas para cada grupo sexual. Da escolinha até a universidade frequenta-se localmente e em ambientes ligados ao ritmo da vida que lhes espera na fase adulta. Mesmo os cargos de liderança na estrutura tradicional aprendem-se em contextos muito locais. Atingem-se todos os níveis escolares; o bacharelato, a licenciatura e mesmo a doutoramento em idades diferentes conforme a posição social e o que se espera dessa criança/jovem na sua vida activa. Por exemplo, todas as crianças já indicadas para cargos de maior influência decisiva na vida da comunidade começam cedo a aprender todos os truques ligados a aquela futura posição em grupos de sexo idêntico e específicos. Nesses grupos as nossas crianças aprendem o estilo de vida costumeiro assim como o seu papel na sua família, no seu futuro lar, na vizinhança e na comunidade.
As circunstâncias existem mesmo em qualquer idade e a separação por grupos de sexos idênticos ganha hipocrisia à medida em que as crianças continuam crescendo e atingem a puberdade aqui em Nhancuco. Normalmente, elas inventam entretenimentos nocturnos que os juntam ao sexo oposto, sobretudo no tempo de luar. Actualmente, até não é estranho experimentarem alguma aventura pela noite tímida, em habituais jogos de papá e mamã debaixo de capim alto, salvando-se apenas quando usam as camisinhas, das tantas a elas distribuídas pelos titios ora empregados que acreditam que combater o HIV basta incitar a curiosidade adolescente distribuindo-lhes as borrachas portáteis! Borrachas que os mais inocentes agradecem a oferta porque vão poder enchê-las de ar e ter pelo menos uma bola para jogar com a malta. Bastam alguns plásticos atados circularmente por linhas de uma manta rasgada por fora do balão (jeito), para fazer-se uma perfeita bola que vai contribuir para um crescimento harmonioso dos garotinhos. Claro, a lubrificação do jeito que passa das mãos até a boca dos garotinhos não deve causar graves problemas a saúde deles!
As crianças são por hábito muito livres embora com idade as meninas se identificam mais com as mães e os meninos com os pais. 23.07.08, por DJMuala.

Capítulo 6
A missão do PRPNG é incentivar acções de Desenvolvimento Humano e de Conservação do Ecossistema!

Através de muitos esforços para conservar, restaurar o ecossistema a sul do Vale do Rift; incentivar o ecoturismo, buscar mais parceiros para ajudar os vários projectos que o PRPNG vai levando a cabo dentro do Parque e nas comunidades da sua zona de desenvolvimento sustentável (CZDS)-´zona tampão´; projectos como a compra e introdução de espécies de animais largamente dizimadas durante a guerra dos 16 anos, aumento do controlo da caça furtiva, a criação de mais postos de empregos, a reabilitação e reconstrução do acampamento de Safaris de Chitengo e outros acampamentos para trabalhadores, a construção de novas infra-estruturas no Parque e nas suas CZDS-´zona tampão´- como escolas e postos de saúde, a entrega dos 20% das receitas do Parque para as CZDS-´zona tampão´, a disposição de enfermeiros para prestar assistência sanitária nas diversas CZDS ainda sem postos de saúde, a instalação de telecentros ligados a internet em algumas CZDS, a introdução das práticas da agricultura sustentável nas CZDS, a instalação de uma secadora de frutas na vila da Gorongosa como forma de facilitar as comunidades venderem aí as tantas frutas sempre condenadas ao apodrecimento nas diferentes épocas, etc, o PRPNG conseguiu servir de ponte entre a comunidade de Nhancuco (uma das CZDS) e o Banco Internacional de Moçambique (BIM) para a construção das quatro salas novas de aulas nesta comunidade. (ver fotos mais adiante).

Capítulo 7
Estratégias conscientes são a aposta do PRPNG nos seus programas

Na sua estratégia que privilegia mais oportunidades para o melhoramento do Parque e do nível de vida das CZDS, o PRPNG sempre convida entidades e personalidades diferentes e se esforça, depois, em levar tais visitantes e turistas a ver o seu trabalho de restaurar o Parque, a Serra, as comunidades e as oportunidades de ecoturismo que as CZDS oferecem.
Convidando personalidades, visitantes e turistas para os diferentes cantos do Grande Ecossistema, o PRPNG sortudamente conseguiu, num desses dias, trazer personalidades do BIM à comunidade de Nhancuco (lugar onde o PRPNG tem uma das suas equipas de trabalho a produzir viveiros de plantas nativas que reflorestam a Serra) que está a quase 700 m de altitude na Serra (?), perto das cascatas sobre o rio Murombodzi. Estas personalidades, depois de verem o estado precário das salas de aulas de Nhancuco, aceitaram sem hesitar partilhar a responsabilidade social. Era todo o Millennium BIM a ver e entender as necessidades das crianças desta comunidade de Nhancuco que estudavam em salas péssimas, feitas a partir de caniço e colmo, sem nenhuma segurança nem protecção. O Millennium BIM abriu voluntariamente os seus cofres e desembolsou dinheiro para ajudar a esta comunidade, proprietária das cascatas sobre o rio Murombodzi, a sair das salas de aulas péssimas:
Antigas salas que desde 2005 até 22 de Julho de 2008. 23.07.08, por DJMuala.

para as salas recém-construídas:
De 23 de Julho em diante, estas passam a ser as salas de aulas. 23.07.08, por DJMuala.

Uma responsabilidade social exemplar foi assumida aqui pelo Millennium BIM e consubstanciou-se em acção concreta. Millennium BIM mostrou a vontade de olhar para as camadas mais desfavorecidas e realmente carentes. Uma camada que tem que assumir o ritmo de vida actual, mais enquadrado no contexto do chamado mundo actual. Um mundo alfabetizado, global, lentamente reversível. As salas representam incentivo ao tal mundo, um futuro pintado por palavras impressionantes como sustentável, desenvolvido, erradicado de pobreza, melhor e tantos outros termos carregados de psicologia. Muitas gerações recorrerão para estas salas para se alfabetizarem, inspirarem, buscar o que lhes estimula e esperam conquistar através de desafios da vida pós-colonial apoiada no alfabeto.
                                                                                                  
Capítulo 8
O nosso sentimento geral hoje em Nhancuco é de

Um agradecimento profundo ao PRPNG que se esforça em trazer para as suas CZDS entidades, personalidades conscientes, responsáveis, sensíveis e dispostas a contribuir para a salvação da fauna, flora e que impulsionam uma visão diferente das pessoas que fazem parte deste grande ecossistema. Que o PRPNG um dia consiga ajudar-nos a aprender novas formas de viver que não eliminam os animais, as árvores nem precisemos de praticar queimadas que acabam destruindo nossas próprias vidas, celeiros, e casas e outros haveres.

Capítulo 9
Se pudéssemos pedir diríamos

Por favor PRPNG, continue a trazer para as nossas comunidades necessitadas, mais e mais entidades e personalidades com sensibilidade e disponibilidade, que um dia nos ajudarão a ter um posto de saúde, alargar e nivelar a estrada para Nhancuco, construir mais salas de aulas porque o número de alunos de ora em diante certamente vai explodir. Por falar de escola, falta-nos ainda um bloco administrativo, casas para professores, mais casas de banho e latrinas, uma cantina, etc. Por exemplo, actualmente os professores que preferem ficar perto de algumas escolas onde leccionam, como os da escola mãe de Murombodzi, da qual as quatro salas de aulas já inauguradas em Nhancuco são anexas, vivem nestas casas:
Casa que era para o director da escola de Murombodzi, Sábado Paulo Dombe (em frente da casa). 23.07.08, por DJMuala.

Esta casa acima era para o director Sábado e é partilhada por duas professoras desta escola mãe.
Sábado Paulo Dombe (em frente da casa) é o actual director da escola mãe, da qual fazem parte integrante as quatro salas inauguradas hoje, dia 23 de Julho de 2008, pelo governo do distrito da Gorongosa e da província de Sofala, na presença do representante do Millennium BIM e da senhora Maria João Barbosa, entre outros distintos convidados e a própria comunidade de Nhancuco. Portanto, Sábado é o director das quatro salas novas. (Ver o breve perfil dos sete funcionários da educação afectos na escola de Murombodzi nas últimas páginas).
O director Sábado decidiu ceder esta casa para suas duas colegas que trabalham com ele na escola mãe. Sábado preferiu passar a maior casa porque é a mais espaçosa e capaz de ser partilhada comparativamente a uma outra que fica a escassos metros. A falta de egoísmo e de complexo faz deste director mais empático, próximo e compreensivo. Sábado vai então passar a dormir nessa outra casa (pequena) que ainda está em construção:
Futura casa (ainda em construção) do director da escola mãe de Murombodzi, Sábado Paulo Dombe. 23.07.08, por DJMuala.
Casa de banho (em construção) comum para as duas residências de professores. 23.07.08, por DJMuala.

Nestas condições vivem muitos dos professores provenientes, que preferem ficar perto da escola ou salas de aulas onde estão afectos para disseminar o alfabeto formal nas CZDS do PNG. São estas condições que diminuem paz ao Greg e toda sua equipa de gestão do PRPNG e, conscientes de não poder recuperar tudo sozinhos, Greg e sua equipa de gestão do Parque se esforçam em convidar seus amigos e simpatizantes para o Parque e para as comunidades. Via-se no Hendrick Pott (enviado do PRPNG para a cerimónia de Nhancuco) um sentimento de gratidão aos parceiros que voluntariamente decidiram ajudar com algum fundo para que a conservação e a melhoria do nível de vida das CZDS como em Nhancuco.

Capítulo 10
Os hábitos dos professores provenientes e naturais

Para os professores e as comunidades que vivem aqui nos confins da civilização moderna, a única fonte de informação muitas vezes são os rádios (se os tiverem) que se atam a uma corda e se penduram no pescoço, enquanto se caminha. Isso para os profissionais locais claro – os camponeses. Quando se chega à machamba, os rádios a tocar são pendurados numa árvore, num murmuché ou em qualquer outro lugar elevado enquanto as enxadas tocam no chão duro. O lugar elevado ajuda a espalhar o som. Os professores penduram os rádios em seus ‘‘jogos de a vida começa assim’’ (cadeiras e mesas de bambus). Aqui não existe cultura dos jornais. Isso de ler é hábito das vilas e cidades, ‘‘da gente culta’’. À medida em que se afasta destes focos urbanos tais hábitos ficam por lá.
Muitos dos professores provenientes que preferem viver em ambientes mais agitados e deambular todos os dias para os seus postos de trabalho conseguem alguma diferença. Primeiro, começam por alugar casas em um dos bairros da vila sede da Gorongosa. Vivem aí os primeiros 5 ou 6 meses do seu primeiro ano de trabalho e esperam pelo primeiro salário. Salário este que lhes abre as portas para uma classe mensalmente assalariada como os professores antigos.
 Normalmente este salário espera-se entre os meses de Maio e Junho do primeiro ano de trabalho em toda a Gorongosa. Nesse tempo todo, estes seres sobrevivem a magaiva (arranjos pessoais com vista a safar-se de alguma dificuldade temporária), sobretudo, na vila da Gorongosa. Os professores colocados no interior, pelo menos, costumam ter apoio dos líderes e de alguns membros da comunidade em géneros alimentares, enquanto vivem em casas desses líderes locais ou em construídas pela comunidade como as vistas em cima. Este grupo de professores, nutridos a maneira local entre frutas silvestres, xima forte, verduras, madumbes (inhame), feijões de diferentes tipos, bebidas nutritivas, galinhas cafreal, são geralmente mais saudáveis, sexualmente mais capazes de desvirginar alguma virgem da zona apadrinhados pelos jovens locais.
Os mais adaptados deste grupo, acabam se familiarizando com o ambiente local. Se inserem sem hesitar. Aproveitam poupar suas economias vivendo mais de doações das famílias adoptadas e das benfeitoras. Podem até ter suas casas construídas com a colaboração da comunidade, casar ai. Assim encaixados, ficam os escrivães nas reuniões e resoluções de conflitos sociais. Muitas vezes são cedidos palavras para emitirem seu juízo nas resoluções gozando de um estatuto especial. Gradualmente, os mais concentrados atingem estatutos de fazendeiros com criações de animais de pequena porte, grandes machambas, etc. Perdem assim o monopólio do mundo da informação, tornando-se mais vegetativos.
A sorte dos residentes na vila sede não é em alimentos, é poderem assistir algum filme nas proliferantes casas de filmes espalhadas por todos os bairros já electrificados da vila. Podem ainda ver televisão, falar aos telefones fixos e móveis, beber alguma cerveja fresca devida em barracas, conviver com mais colegas e outros funcionários de outros ministérios, em suma, estes professores têm algum acesso a informação actualizada e nalguns casos aos jornais escritos. Portanto, estes ganham alguma informação e padecendo de fome e má nutrição.
Depois do primeiro salário acumulado que inclui os salários dos meses todos que o professor esteve a trabalhar sem receber até ao mês do primeiro salário, portanto o maior salário na vida de um professor novo em Gorongosa, muitos costumam conseguir comprar pelo menos uma bicicleta, meio de transporte diário para o seu posto de trabalho. Na posse de uma bicicleta afirma-se definitivamente a recusa do professor de ir viver para a comunidade perto das salas onde lecciona devido às condições inóspitas destes sítios. Alguns mais empreendedores aproveitam esse salário para abrir suas contas bancárias, comprar algum terreno na periferia da Gorongosa ou mesmo começar a pagar pouco a pouco alguma casa. Claro que outros acabam todo seu primeiro dinheiro a matricular em clubes de bebedeiras nocturnas. Daí a nossa esperança que os professores afectos aqui em Nhancuco, um dia, tenham casas convencionais que os motivem a viver no meio de nós, dia e noite, e ensinem as nossas crianças o alfabeto formal e informal que trazem consigo.

Capítulo 11
Sentimento dos pais em relação as novas salas

De hoje em diante, aqui em Nhancuco, começamos a sentir a necessidade de mandar todas as nossas crianças para estudar naquelas salas tão bonitas, tão simbólicas, um dos nossos orgulhos nesta comunidade.
Em Nhancuco acreditamos que o PRPNG sozinho não vai poder fazer tudo para o Parque e para todas as comunidades do Grande Ecossistema ao longo deste Vale do Rift. Temos a consciência de que o PRPNG tem a responsabilidade de encabeçar as actividades de recuperação e revitalização do natural e social nesta zona remota de Sofala, mas sentimos que precisa de muitos apoios do trabalho local e de dinheiro doado pelos que têm e podem doar para poder levar os seus projectos avante e com sucessos. É verdade que todos podem doar ao PRPNG algo que ajude a efectivar os seus inúmeros projectos. Moralmente, todos tínhamos que dar o nosso contributo ainda que mínimo para e participar. Os apoios de entidades com responsabilidade social, a exemplo do Millennium BIM que se encarregou não só do financiamento como também da própria construção das salas, ajudam a elevar o nível de vida nas CZDS do PNG. 

Capítulo 12
A comunidade de Nhancuco louva a estratégia do PRPNG

Continue PRPNG a convidar mais potenciais parceiros, com sensibilidade, consciência e responsabilidade sociais; parceiros capazes de seguir o exemplo iniciado pelo Millennium BIM de Moçambique no apoio às CZDS do Parque, um dos grupos de comunidades mais carentes de infra-estruturas sociais em toda a região centro de Moçambique. Em Nhancuco, somos um dos grupos mais pobres e carente.
As novas salas de aulas , que hoje nos entregam oficialmente, são o tema das nossas conversas de ora em diante, como não sairão das bocas das outras comunidades nossas vizinhas. Estas salas são, por enquanto, o único símbolo colectivo oferecido por humanos para toda a nossa comunidade, depois da oferta de Deus - as cascatas do Murombodzi e a Serra.
Nos orgulhamos, porém, da família Palinha e Carvalho pelas primeiras carteiras que usamos nas primeiras salas, carteiras que retiramos das ruínas residenciais abandonadas que pertenciam a estas duas famílias. Recordamos-lhes mais sempre que vemos tais carteiras, porque salas há em Matacamachaua, por exemplo, que nem se quer têm tijolos por carteiras.
Carteiras (tijolos) retirados das antigas construções pertencentes às famílias Palinha e Carvalho, 23.07.08, por DJMuala.

Ora, buscando identificarmo-nos com o novo símbolo colectivo, mandaremos as nossas crianças; meninas e meninos para estudar nas salas novas, cientes de que nós, os pais, também passaremos pelas salas novas para podermos decifrar o alfabeto na busca de um passo para frente.
Agradecemos o PRPNG que serviu de ponte entre nós em Nhancuco e o BIM.
Temos ainda outras tantas necessidades que Nhancuco sozinha nunca conseguirá fazer, gostaríamos de contar sempre com este tipo de ajudas, enquanto nos ensinam a corresponder com as vossas expectativas.

Capítulo 13
Cresce a consciência local de conservação

Os nossos hábitos e práticas agrícolas, na busca de superar nossas necessidades básicas usando os recursos naturais à nossa volta, levam-nos à  atitudes que, em outros contextos fora de Nhancuco, são interpretadas como tristes, devastadoras, desflorestadoras, entre mil adjectivos nocivos contra o natural. Perpetramos tais acções não por maldade contra a natureza, nem para intencionalmente ofender os peritos na conservação da biodiversidade, mas constituem nossas formas tradicionais de produzir para sobrevivermos e por vezes nem mesmo notamos que agimos mal.
Pelo contrário, sabemos que é a forma herdada dos nossos antepassados para produzir mais comida que alimenta as nossas famílias cada vez mais crescente. Notamos que assim se costuma ter mais excedentes até para vender aos compradores sempre assíduos ao longo da época das colheitas. Uma traição é que os nossos antepassados eram poucos numericamente, que depois de desequilibrarem o natural à sua volta gradualmente, mudavam-se para outros lugares para continuarem a abrir outros mathemas (ver adiante), caçar, extrair o minério em detrimento do natural. Sempre viveram assim e legaram-nos este estilo de vida que leva tempo para mudar. Pouco a pouco vamos compreendendo que os tempos mudaram e temos que também mudar as práticas antigas para ajustarem-se às novas exigências: as exigências de seremos muitos numericamente com um espaço que já começa a escassear. As mudanças são inevitáveis e termos que mudar das nossas práticas tradicionais ajustando-as para as novas realidades. Antes, por exemplo, não precisámos de salas de aulas. O tipo de escola era outro. Estudava-se sistematicamente só no período dos ritos de iniciação. O resto era por imitação dos adultos.
Mapira a ser vendida. 23.07.08, por DJMuala.

Capítulo 14
Alguns truques actuais para sobreviver em Nhancuco

Uma das formas de sobreviver aqui é vender constantemente uma parte dos produtos da machamba para fazer face as novas exigências da vida – comprar, comprar, comprar mais isto hoje aquilo amanhã. Outra parte dos mesmos produtos as mulheres e crianças levam-na sempre que necessário à moagem para se obter a farinha - a nossa base alimentar.

O processo de obtenção da farinha, nossa base alimentar em Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.

No princípio, quando a vida era simples e as necessidades de comprar se limitavam a instrumentos básicos, sal, sabão, alguma roupa básica, cobertores, a maior parte dos produtos da machamba era armazenada em celeiros para a fase pós-colheita. Este excedente alimentava a família até a colheita seguinte. Era uma segurança alimentar indiscutível.
Actualmente, com a vida toda feita de compras disto e daquilo, somos irresistivelmente induzidos a vender a maior parte dos produtos da machamba sempre que se tem uma necessidade para comprar outros artigos que não temos localmente. Como consequência da economia virada ao mercado passamos a fome o resto do tempo como se não tivéssemos produzido o suficiente. As moagens, a escola actual e as suas tantas necessidades, o vestuário mais estruturado e diverso da era actual, as bicicletas, as viagens, os documentos do notariais, as bebidas industrializadas, os rádios, chinelos, sapatos, capulanas, ofertas nas igrejas, entre outras necessidades novas e imperativas que exigem cada vez mais dinheiro, aqui em Nhancuco, são uma parte das novas exigências de uma vida mais complexa que para aguentar temos que vender a maior parte da nossa produção agrícola.
O nosso único rendimento económico é a nossa produção agrícola. É esta produção que deve responder a todas as necessidades que nos são impostas pela a avalanche da moda, da modernidade, do capitalismo, do alfabeto formal e informal. É muito o que é preciso comprar para as nossas novas e ilimitadas preocupações. Temos de comprar esses produtos diversificados que abundam no mercado de hoje e que duram pouco tempo. Esses produtos fabricados na sua maioria na China para os países como Moçambique, produtos baratos na compra como no estragar-se!

No Murombodzi,  mulheres e crianças é que frequentemente vão a moagem. 23.07.08, por DJMuala.

As nossas expectativas da vida circunscrevem-se basicamente nestes moldes; o nosso tradicional (sempre a caducar) está a ser cada vez mais ocidentalizado sem consentimento. Uma onda de sublevação chamada modernismo, incompatível com o existencialismo, arrasta cegamente a maioria e tudo quanto pode. Os teóricos deste inevitável dilema cultural, mais destruidor que um abate desenfreado de árvores da Serra, chamam-no de dinamismo cultural e com ele alienam-nos impiedosamente em todo Nhancuco. Nós, os pais e encarregados de educação em Nhancuco, sofremos a duplicar com esta nova calamidade geral a qual não temos como esquinar. Ora é o alfabeto formal ocidental que, como a igreja bíblica, se intrometeu em Nhancuco com suas promessas de um futuro melhor: a profissão, o emprego, boa vida, novas formas de governar o povo acima dos régulos, electricidade, celulares, carros, computadores, etc. O alfabeto formal é acusado de poder trazer tudo isso para a vida de todos seus adeptos quando na verdade só uma minoria é que vai realmente beneficiar-se. O informal e talvez mais oriental, pretendendo abrir horizontes coexistentes enquanto cultiva a preguiça na zona,  produz o estilo de vida que se pode ver abaixo em Murombodzi:

O estilo de lojas mais frequentes no interior da Gorongosa. 23.07.08, por DJMuala.

Um jovem senhor que ao invés de estar a praticar os mathemas (abate de árvores para abrir nova machamba) assimilou o hábito de vendedor e senta-se no mercado de Murombodzi a caçar directamente o dinheiro. Espero pelo dia que este meu concidadão (muitos na mesma condição) se tornará em um milionário capaz de passar habilidades comerciais aos nossos filhos!


Mercado perto da escola mãe de Murombodzi. 23.07.08, por DJMuala.

O contrário poderá desorientar os filhos se pautarão em seguir a vida comercial como esta ou terão de aprender sozinhos abrir os mathemas!
No nosso mercado vendemos o que conseguimos puxar de bicicletas da vila sede da Gorongosa e colocamos a disposição de outros lá dentro das nossas comunidades. Assim tentamos lutar pela vida sem recorrer aos trabalhos habituais das machambas.
Ao entrarmos na inevitável bancarrota, voltamos para as nossas enxadas e para os mathemas tradicionais. Eis alguns dos produtos que puxamos da vila para os nossos mercados do interior e também lá pagamos as senhas para as receitas da administração:
O tipo de produtos vendidos no nosso mercado perto da escola mãe de Murombodzi. 23.07.08, por DJMuala.

Cada qual está na sua banca. Os produtos são, na sua maioria, os mesmos embora os donos são diferentes, com destinos assemelhados aos produtos que vendem. É assim que idealizamos poder viver na nova sociedade virada ao comodismo e consumismo. Na pior desorientação sobre o que seguir em todo fluxo da modernidade, achamos valer mais esta criatividade que não viola nem moral nem fisicamente a nenhum irmão cientes de que não garante nenhum futuro seguro.
 
Uma das novas formas de viver para além das machambas nesta comunidade. 23.07.08, por DJMuala.

Esforcem-se em ajudar-nos a mudar das práticas consideradas danificadoras para as aprovadas como alternativas sustentáveis. Bem haja o PRPNG!
           
Capítulo 15
Ajudar a quem realmente merece e quer é construir uma história permanente

Uma memória indelével e menção honrosa endereçamos ao BIM que, tendo visto a situação difícil em que as nossas crianças estudavam aqui em Nhancuco, pontualmente aceitou dispensar fundos para a construção das salas convencionais, seguras, onde os nossos filhos passarão a sentar-se e estudar a vontade sem receios de molhar ao cair da chuva.
A época chuvosa é sempre nossa vizinha aqui em Nhancuco. Como de hábito, esta época é mais prolongada e acompanhada de precipitações e outras formas naturais que ameaçavam sempre as nossas crianças durante as suas aulas. E nós também quando estamos nas nossas aulas de alfabetização. Para além de que as temperaturas aqui na Serra mudam à qualquer instante, e antes estávamos sujeitos a toda esta maçada. O Millennium BIM, pela primeira vez, construiu-nos as primeiras quatro salas com o material convencional, resistente, seguro e cómodo.
É o Millennium BIM que abriu-nos aqui em Nhancuco pela primeira vez, depois da guerra dos 16 anos, esta página da história das infra-estruturas sociais construída na base de material convencional de que apreciamos e agradecemos imenso. A nossa capacidade construtiva e experiência locais aqui em Nhancuco só nos admitem construir infra-estruturas como as antigas salas de Nhancuco, as casas dos professores vistas acima, etc. Como um pintainho dentro de um ovo sempre precisa da galinha para abrir a carapaça, também em Nhancuco nós precisámos do BIM para nos tirar das salas precárias para as convencionais que acabou de entregar-nos hoje.
Com elevado apreço sentimos de coração e alma a grandeza desta ajuda na comunidade de Nhancuco. Teremos sempre dentro de nós, em memória indelével do Millennium BIM, a mais distinta apreciação dos esforços empreendidos em construir-nos o futuro sustentável.
Millennium BIM, continue com esta disponibilidade sempre pronta para ajudar a melhorar as condições dos que realmente necessitam de ajuda como nós em Nhancuco!
Em Nhancuco, depois das salas do BIM, ainda lutamos com carências extremas em posto de saúde, acessibilidade da via principal que leva a esta comunidade.
Mulheres, crianças, velhos, deficientes físicos vêm-se sempre na obrigação de percorrer grandes distâncias para chegarem ao posto de saúde mais próximo e obterem os tratamentos. Muitas vezes temos de carregar estas pessoas com macas, quando já não conseguem andar, até chegar ao posto de saúde mais próximo. E às vezes morrem a caminho do posto de saúde!
Muitos turistas e visitantes estragam seus carros, voltam no caminho, ficam enterrados e arrependidos enquanto procuram chegar às cascatas de Murombodzi. São estas pessoas que conseguindo passar por Nhancuco acabariam por ver as nossas dificuldades, e quem sabe se um dia nos pudessem ajudar como o Millennium BIM! Quiçá outras instituições possam imitar o exemplo já dado pelo Millennium BIM.
Bem haja óh Millennium BIM em Moçambique!

Capítulo 16
Quando um governo eleito pelo povo não se esquece dos seus compromissos eleitorais

Bem haja oh governo da província e do distrito que com responsabilidade soube estar sempre presente na nossa comunidade de Nhancuco lado a lado até hoje, dia 23 de Julho de 2008, dia da inauguração das nossas salas de aulas de Nhancuco, construídas pelo Millennium BIM. A presença do governo nestes locais ajuda-nos a perceber a preocupação pelas comunidades de que representam.
Em Nhancuco acreditamos que com acções práticas como estas, que todos podem ver sem muito esforço inclusive as crianças, os cegos que podem palpar, o governo realmente está do lado das comunidades e se esforça em traduzir em realidades tangíveis os destinos que sonha para as pessoas que representa. Continue nosso governo a representar-nos e lutar sempre pelo melhor de nós, vossas comunidade, em todo o tempo e lugar depois de vos votarmos como nossos representantes legítimos.
Bem hajam todos aqueles que directa ou indirectamente contribuíram para que estas salas realmente pudessem ser construídas e servir simultaneamente para as nossas crianças buscarem aí o seu futuro melhor e nós a nossa alfabetização. Aos desenhadores, pedreiros, carpinteiros, e a todas as profissões ligadas a construção das salas, vai o nosso muito obrigado.

Capítulo 17
Porquê este documento?

Para restaurar o hábito de leitura extensiva que entrou na última etapa da sua falência. Ler os e-mails e escrevê-los, as sms pelo telefone, os filmes e músicas, os vídeo-clips, etc, está na moda sim. A moda pode se definir como hóspede. Vai-se, passa depressa, ficamos nós e só nós. Saímos de uma moda para a outra e passamos a vida na moda! Triste é que os modistas hipnotizam-nos como o vento hipnotiza folhas secas!

1.      Então:

Hendrick Pott fez o que Vasco Galante tradicionalmente faz. Convidar os outros a partilhar uns momentos impares. Desta vez foi Hendrick Pott.
Estava a tomar o pequeno almoço na companhia da dona Rosa e uns colegas, na manhã do dia 22 de Julho, debaixo de uma das árvores do bonito quintal do habitual Restaurante Furtivo de Chitengo.
Hendrick preencheu este papel. Não sei as motivações dele para a opção;
Se por vontade pessoal ou por indicação, se por afeição natural e clandestina, ou simplesmente por escolha aleatória, ou...
Convidou-me a fazer parte de um evento indelével na vida de uma comunidade: para a cerimónia de inauguração das quatro novas salas de aulas em Nhancuco. Salas anexas da escola primária de Murombodzi.
Hendrick sugeriu que levássemos uma máquina de filmar ou de fotografar. Então quis saber se Carlitos Sunza (nosso jornalista no PRPNG) deixara tudo a disposição.
A verdade contradizia. Hendrick, sempre calmo e inteligente, esperto e experiente ficava cada mais impaciente e desesperado à medida em que a resposta positiva demorava chegar. Interessava ao Hendrick uma máquina que o garantisse imagens para recordar este dia histórico na vida da comunidade de Nhancuco. Um nacionalismo puro, uma paixão forte pelo Nhancuco, pelas salas novas, pela educação que se alastra aos confins, a responsabilidade de representar o PRPNG neste evento ... escapavam do interior de Hendrick para espreitarem fora dele através da cara, seu temperamento mexia-se como um caniço no leito de um rio.
Quem nunca quis ter recordações dos momentos impares na vida? Um dia tão impar e sem mdc (menor divisor comum «na matemática básica da escolinha») como 23 de Julho de 2008.
Hendrick, em nome de todo bem articulado PRPNG convidou-me para este dia impar. Uma gratidão enorme fica aqui expressa com a minha máxima sinceridade possível para toda equipa de gestão do PRPNG.
A máquina está no escritório do departamento para as comunicações. Carlitos acreditou que Vasco levara as chaves para a reunião trimestral de Maputo. Para abrir as portas de Maputo!
Vasco não salta para nenhum ramo seco. Tem consciência que ramo seco pode deixá-lo conhecer o chão propositadamente.
Ao Vasco Galante talvez falte-lhe duplicar os anitos que sustentam Carlitos. Os hábitos de ocultar a verdadeira idade é dos africanos. Estes é que manipulavam a idade a seu belo prazer. Geralmente reduziam uns dois ou mais quando obrigados a registar-se oficialmente em documentos. Poucas são as vezes que tiveram idade acrescida.
Isso de registar é tal cultura do alfabeto ocidental. Aqui tudo regista-se na memória e passa-se depois para os mais novos com acréscimos ou diminuições. Os nascimentos não precisavam de ser registados em documentos, porém ninguém jamais esqueceu seus familiares por não estarem registados, nem os régulos esqueciam os seus elementos.
Então começaram a ser obrigados porque não faz parte da sua cultura registar-se quando uma criança nasce. Na cultura folclore africana não existe o registo escrito de nascimento porque os curandeiros (parteiras oficiais da cultura e médicos) não tinham o alfabeto escrito, mas na memória. O Alfabeto ambulante, que muitos acreditam ter nascido no Egipto, Fenícia, transformado e reduzido pelos gregos para o sistema actual do mundo moderno é recente em África. Tal alfabeto, escondendo-se na loucura do Humanismo (movimento que eliminou uma sociedade dogmática antiga, mais democrática, igualitária, honesta na moral e incompatível com o desorientador alfabeto), eliminou a consciência antiga; antiguidade que não tolerava o feminino, era ao mesmo tempo mais deformada para a avidez da actualidade traiçoeira, irreconciliável com as interpretações grosseiras da extremista Bíblia Sagrada. Quando este alfabeto chegou no interior de Sofala, começaram a surgir idades falsas manipuladas em função dos objectivos dos registos. Os europeus têm já por tradição registar-se logo ao nascer. E Vasco é um europeu apaixonado pela África, então...!

Capítulo 18
Vasco não levou as chaves à Maputo!

Vasco afinal deixou as chaves no Chitengo. Contactou com Hendrick ao telefone. Situou-o sobre o resto, as chaves do escritório do Departamento para a Comunicação.
Hendrick, esquecido do meu número de telefone, talvez porque recebera novo telefone e quem sabe novo número naquela empresa (onde os judeus existem em oposição aos pagãos), teve que mandar o colega Elias Fazenda para localizar-me. Elias foi à minha tenda. Importunou meu colega Macadona, a quem disse estar a ser chamado pelo Hendrick quando na verdade eu é que era o alvo
Já estive por acaso há muito a espera do Hendrick que conversava em frente dos escritórios em parkhomes das Finanças, IT e Administração com algum colega, talvez conversava com o Jacob, chefe dos transportes do sector de Infra-estruturas em reorganização. Esperei. Acabada a conversa deles, Hendrick veio ao meu encontro.
Juntos fomos para o escritório ainda em parkhomes do Departamento de Comunicação para eu levar a máquina fotográfica. Entrámos eu e Hendrick e retirei a máquina da sua mala vermelha habitual.

Capítulo 19
Da vila para Nhancuco

Fui passar a noite na vila da Gorongosa porque quis trabalhar um pouco mais a margem de 22 horas, horas que o actual gerador que fornece energia no Chitengo desliga deixando-me muito a desejar.
Hendrick, tomando um comportamento santo, não se opôs. Aceitou naturalmente a companhia de Macadona que se prontificou a dar-lhe a direcção do Telecentro da vila da Gorongosa. Macadona havia se prontificado igualmente para dar a direcção do Telecentro da Gorongosa ao motorista que passaria a pegar-me no dia seguinte para a cerimónia de inauguração das salas novas de aulas de Nhancuco.

Capítulo 20

Hendrick Pott disponibilizou um carro para Nhancuco

Foi tudo conforme. Garantido o transporte, o Hendrick ficara com a missão acrescida de requisitar um motorista. Pareceu-me um assunto menos importante. Hendrick não disse nada antes das oito horas do dia sagrado para Nhancuco. Consultei telefonicamente o Macadona, voluntário em dar endereço do local de encontro. Interessava-me saber se o programa estava conforme. Nada estava adiado mesmo com a chuva que se fazia sentir logo de manhã.
No havia Chitengo poucos chefes nesta semana. Todos os responsáveis de sectores tinham partido para Maputo entre os dias dezoito e vinte, excepto Hendrick Pott. Graças ao seu máximo entender de todo o sistema funcional do Parque e do Chitengo, hendrick Pott sempre escapa-se de muitas reuniões realizadas em Maputo. Serve de guardião do acampamento e das atividades turísticas durante o período até que os outros voltem de Maputo, onde têm ido para uma reunião de balanço trimestral. Os últimos a saírem foram Greg e sua visitante, que depois de me despedirem na nossa Mediateca partiram rumo à cidade Beira de helicóptero.

Capítulo 21
Longas horas a espera do transporte no Telecentro da Gorongosa

Esperar é a regra para os carentes. Esperei pelo transporte como se espera um chapa-cém. Umas horas da manhã passaram a fio enquanto varizes me saiam irtos nas pernas de pé na varanda do Telecentro a reparar para o lado da Beira por onde viria o carro. O Parque fica na direcção da Beira para quem estiver na vila da Gorongosa. Duas horas passaram a reparar para o único lado.
Eu misturava entre incertezas e irritações de molhas sempre que eu saísse para fora da varanda convidado por um ruído de alguma viatura qualquer que viesse naquela direcção porque fora uma manhã com chuviscos, sobretudo na vila da Gorongosa. Como eu não sabia a cor da viatura que viria, toda e qualquer viatura que viesse na direcção da Beira movia com minhas entranhas. Minha adrenalina subia cada hora que passasse sem ver o chegar da viatura esperada.
 Pouco a pouco foram chegando alguns conhecidos meus que me fizeram companhia. Já a aumentar o número de companheiros vimos chegar um Nissan branco com o timbre do Parque (um colante com imagem de um leão) colada nos dois lados das portas, o sinal característico de qualquer viatura do Parque. Era conduzido por Erasmo, motorista do Departamento de Desenvolvimento Humano. Um Departamento mistério entre paixão fanática por assuntos sociais e a força por concretizar tal paixão. Com os seus sucessos e fracassos, este Departamento tem procurado fazer-se presente na vida das CZDS do PNG.

Capítulo 22
Erasmo, motorista simples e manso

Chegou o motorista. Simples e manso. Porém, pouco confuso e incerto se ia ao encontro de um chefe ou de um amigo. Erasmo nunca tinha estado perto de mim como dessa vez, e se esforçava por ser mais formal, menos natural e relaxado. Levou-me. Li no seu comportamento a hipocrisia de um moçambicano diante de um chefe. Aliás, não é sempre assim em todas as sociedades instáveis onde os chefes são deuses temidos, donos intocáveis e vingativos? Um chefe numa sociedade instável é um ídolo chato que a qualquer altura pode despedir qualquer seu subordinado do emprego. Pelo menos é assim que a gente esta habituada a ver nas empresas ditas das sociedades de instabilidade social.
Erasmo primeiro interpretou-me como um desses chefes, dos quais está sempre habituado a ser o que pode ser diante de um chefe para agradá-lo e ser aprovado bom motorista. Deixei-lhe um tempo para perceber-me que nem chefe mesmo sou. Mais tarde é venci a luta de persuadi-lo a minha real posição: um simples colega dele, tão colega quanto ele o é para mim.

Capítulo 23
Porquê só o motorista sozinho quando tem muita gente a espera de boleia?

Erasmo veio do Parque na companhia de alguma gente também colega no carro. Um deles saiu de frente para trás do carro. Deu-me espaço. Suponho que me entendeu na tradição de chefe chefe e portanto, o dono da viagem. Um chefe tem mais direitos, mais precedência em lugares privilegiados. No carro pode ser o de se sentar no lugar mais cómodo. Mesmo o dono do carro, o motorista, que tem seu assento universalmente preparado, finge estar preocupado diante de um chefe. Por vezes acredita que entrar por último, depois do chefe entrar, é mais respeito e cortesia. Bom, é mesmo relativo e funciona mais com cada carácter de cada chefe.
No campo como aqui, o clima e o circuito de informações no sector laboral é geralmente um assunto sério. Sobretudo numa era como a nossa em que há muita crise de emprego e as vagas se conseguem mais por familiaridade, amizade, apadrinhagens, subornos, etc. Aí o chefe, que tem o poder de afastar um subordinado do emprego sob qualquer pretexto, torna-se um senhor absoluto. Instala-se então, em muitos súbditos, uma doença mental de insegurança. Por vezes acompanhada de hipocrisias, fofoquices, etc, tudo que o ajuda o subordinado a captar atenção do chefe e ganhar-lhe confiança, que pela força do hábito passará a ser alimentada por fofocas.
Assim, o indivíduo que se contratou para trabalhar para uma empresa acaba sendo trabalhador secreto do chefe e assistente da empresa! O sistema de vigilância secreto uns dos outros cresce assustador nesse contexto. O chefe que dividiu vai reinando assim, bem informado a partir do seu escritório. Suspeitei que Erasmo e os outros que vinham no carro tivessem tal sentimento e receio. Não se conhece quem pode prejuducar. Para evitar o pior, cada um procura usar os seus truques evitando tudo e todos. Desceu então o colega que se sentara na na cadeira de frente, lado a lado com Erasmo. Estão conscientes de que os projectos poderem rescindir o contrato de qualquer trabalhador (cujo peso recai mais nos subordinados, nos elementos que no chefe) a qualquer altura sem esperar pelos três meses do Aparelho de Estado.
O colega esteve comodamente sentado. A sua descida injustificada criou-me muita preocupação. Para mim o que importa é estar no carro e chegar ao meu destino. Senti alguns complexos para assumir o lugar. Enquadrava-me bem atrás, mas...o sucedido tinha mesmo sucedido. Tentei persuadir o mutante para manter-se no seu lugar, mas aquele tinha suas posições muito bem claras, não era para persuasão.

Capítulo 24
Alguma relutância

Aceitei o lugar cedido com muita pena e não disse nada. Eu sabia que não era chefe dele. Só avançámos. O Hendrick precisava de saber da situação meteorológica de Nhancuco para poder ir de helicóptero. Tinha as excelências na sua companhia. E ele representava oficialmente o PNG, embora se tivesse lembrado de convidar-me para a viagem. Eu quis lhe ser útil nesta missão como sempre quis ser útil de acordo com as minhas humildes potencialidades. Evitei então queimar tempo discutindo lugares no carro. Fomos a Nhancuco no meio de chuva na vila da Gorongosa e chuviscos à medida em que afastávamos da vila.
Qualquer paragem, quer fosse para comprar bananas incomodava-me. O desejo de utilidade sempre conduziu-me. Esta era uma das ocasiões a não desperdiçar. Buscámos chegar o mais rápido possível a Nhancuco. Como de hábito, quando se procura atingir qualquer alvo, obstáculos nunca gazeteiam. É sempre assim. A coragem, a determinação, a famosa sorte, um pouco de prós e contras juntam-se no processo. E na nossa viagem a Nhancuco tivemos esses momentos.
A minha pressa era para chegar mais rápido, ler o estado do tempo em Nhancuco e situar ao Hendrick que viria de helicóptero. Para os colegas das infra-estruturas que vieram no carro, a pressa era para chegar e pregar o dístico tapado a vermelho abaixo, marco importante da cerimónia de inauguração.
Dístico depois de fixado e encoberto para a inauguração. 23.07.08, por DJMuala.

Entretanto, um camião igualmente atrasado e cheio de carteiras para mesmas salas intrometeu-se a frente de nós num terreno lamacento e escorregadiço. No princípio estava tudo óptimo, porque percorríamos um terreno comparativamente menos sinuoso.
Porém adiante a frustração foi enorme. Mesmo a equipe do administrador do distrito da Gorongosa e alguns membros da delegação provincial tiveram que descer dos seus carros para darem juízo ao motorista do camião que entalara-se num terreno consideravelmente plano em relação ao vale que acabara de superar depois de duas investidas sem sucessos na tentativa de subir a prova mais cara para um motorista depois das chuvas em pleno terreno do vale do Murombodzi.
Morezi Causande (da equipe do administrador da Gorongosa) foi o primeiro a descer do seu carro para ajudar o motorista do camião que já enfrentava algumas dificuldades em frente do nosso carro.
Formou-se aí, rapidamente, um comboio com suas carruagens. Nós seguíamos atrás do camião. Atrás de nós chegaram muitos outros carros ligeiros que traziam delegações distrital e provincial para a cerimónia, nesses eventos não são todos que usam a via aérea.
Dadas as dificuldades da cabeça do comboio liderar a marcha, viu-se a necessidade das carruagens liderarem a marcha: os carros ligeiros.
Morezi Causande, cansado de esperar, desceu do seu carro enquanto o camião mostrava as suas últimas catas (truques). Subiu no nosso que seguia atrás do camião e só por 180 segundos. Começara a gincana do camião em frente. Seguiu ao Morezi uma onda de peritos na condução entre os quais o administrador do distrito da Gorongosa, a quem saudei apertando-o a mão. Lá foram eles a pé primeiro atrás do camião, depois passaram lateralmente para a frente e conseguiram instruir o motorista do engenho a seguir as regras da condução: ceder espaço para as viaturas mais ligeiras ganharem o tempo. O camião encostou humilhado. Abriu-se, ao lado direito deste, um pequeno desvio por onde os ligeiros passaram com o seu direito!
Fomos à Nhancuco que ainda ficava à um bom pedaço de distância do local onde deixámos o camião.
Chegámos e vi que as condições do tempo localmente favoreciam para um helicóptero aterrar. Comuniquei ao representante do PNG, Hendrick, para voar e trazer as excelências esperadas para a inauguração das salas novas de Nhancuco. As delegações que normalmente chegam primeiro aos locais dos eventos, talvez para reconhecer se as condições aí não levantam suspeitas conspiracionistas, já tinham chegado e estavam calmas. Tudo indicava que as excelências podiam aterrar e presidir a cerimónia de inauguração. A morte é mais chefe tirano destemido que a própria “ignorância” para a qual se construiu as salas para combater.
As quatro salas novas de Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.

Procurei a senhora Maria João Barbosa, responsável do programa e da organização do evento em Nhancuco. Maria Barbosa encarrega-se, por sinal, de um projecto de Responsabilidade Social dentro da sua instituição, Millennium BIM, projecto chamado por Mais Moçambique Pra Mim. É um sector vocacionado a responder pela componente social dentro do grande Banco Internacional de Moçambique.
 Maria esteve na comunidade de Nhancuco para participar da inauguração e entrega das quatro salas para a comunidade local. Seria Departamento de Desenvolvimento Humano se este sector do BIM estivesse no Parque Nacional da Gorongosa.
Maria Barbosa organizou todos os preparativos, por parte do Banco, para a cerimónia do dia. Apresentei-a os homens do departamento das infra-estruturas que o PRPNG enviou para ajudarem nos preparativos; fixar o dístico da cerimónia da inauguração, gesto que ela muito apreciou e agradeceu. Maria Barbosa tem um jeito de ser diferente, nasceu mesmo para assuntos sociais. Logo a primeira que nos encontrámos com ela ficamos impressionados pelo gesto bastante acolhedor. É sempre assim, em cada instituição não faltam pessoas com um carisma naturalmente social. No Parque da Gorongosa também temos um Maria Barbosa que a primeira nos faz sentir muito a vontade. Basta visitar este Parque e o seu acampamento – Chitengo – nestes dias enquanto alguns ainda estão a trabalhar aqui e as qualidades profundamente sociais ainda fazem parte da equipa.
Maria Barbosa percebeu e confiou-nos sem histórias nem preconceitos, embora nunca nos tivesse visto antes. Acolheu calorosamente aos dois mestres enviados pelo PRPNG e a mim também. Não tínhamos, por acaso, aspecto que convidasse muita importância nem pretendemos isso. Até porque os dois meus colegas estavam fardados de seus equipamentos de trabalho:
    Meus colegas enviados pelo PRPNG para fixar o dístico de inauguração das salas de Nhancuco, 23.07.08, por DJMuala.

Maria entregou-lhes a missão de profissionalmente fixarem o símbolo. Maria foi distribuindo, sem trapalhice nem tendência nenhuma, a sua amabilidade por todos ai presentes, dando a cada um a correspondida quantidade de chá que sua chávena pedia naquele dia. Pelo menos foi assim que muitos e eu inclusivamente experimentámos desta vocacionada do Millennium Bim. Sim Maria, talentos não se compram, embora alguns precisem de cultivá-los enquanto outros os têm por doação de Deus!
            Se eu fosse instituição com vocação genuinamente social e humanitária certamente puxava estes dons, estes génios sociais que temperam carismaticamente as tantas empresas para constituir uma turma exemplar de harmonia e paz equilibrados!
Avancei resistindo chupar o favo de mel até ao fim. Eu queria ter a história evolutiva das antigas salas de Nhancuco para as novas e modernas salas. E era uma guerra interior entre partir e ficar. Havia muita razão para ficar, como havia para partir. Estava em jogo a questão humana e o que me levou a ir para Nhancuco. Tive de partir repreendendo o natural, o espontâneo, o original em mim a favor do artificial, do pão, do bem para minha humilde família, ... chamando Erasmo, parti para as antigas salas de caniço de Nhancuco.


O coordenador da zip de escolas da zona, Armando Jossias, distribuía, na circunstância, camisetas aos motoristas e outras entidades que achou credenciadas. Parei um pouco até que Erasmo também tivesse o mérito. E foi reconhecido sem hesitação nem demora. Depois avançámos para o segundo destino.
Erasmo esteve presente na inauguração das quatro salas. Andámos juntos em todos os cantos onde fui. Ele assistiu a cerimónia do seu sector na primeira pessoa. Fiz-me presente a convite do Hendrick. Acho que os nossos departamentos no PNG são uma forma de ter um determinado grupo de trabalhadores empenhados em desenvolver alguma tarefa específica à exemplo de trabalhos em grupo numa aula. Cada grupo investiga um certo tema que depois o apresenta aos outros o mesmo que é seguido pelos outros apresentando-nos os seus temas. No final, partilha-se tudo por todos e nos ajudamos a ir para frente num espírito de uma mesma equipa do PRPNG.

Capítulo 25
A pista do helicóptero fui o quintal das antigas salas de aulas

Já no pequeno destino, encontrei o chefe da SIZE distrital da Gorongosa com quem troquei algumas impressões cândidas. Pesquei a rede da Mcel, na tentativa de enfatizar mais o estado do tempo ao meu chefe Hendrick. Porém, pouco depois chegaram de novo, como naquele sítio de camião, muitos outros carros ligeiros atrás de nós nas antigas salas, um dos quais trouxe o administrador do distrito da Gorongosa, João Oliveira, que nos ordenou sair do local sem demoras. Seríamos um importunio para as excelências descerem enquanto uns tantos estávamos aí?
João Oliveira só queria três carros para receber os que viriam de helicóptero do PNG. Saímos obedientes de volta ao primeiro destino, as novas salas de aulas.


                A via que sai das antigas salas anexas e conduz as novas num dia chuvoso. 23.07.08, por DJMuala.

Dando boleia ao Ângelo, voltámos ao centro da história do dia: às novas salas de aulas de Nhancuco. Eu já tinha alcançado o meu objectivo de fotografar as antigas salas e historiar uma desejada mudança positiva do precário ao normal.
Já nas novas salas, fui tirando algumas fotografias dos já aí reunidos e a espera da delegação.
Os alunos e alunas estão num forte ensaio de canções para a festa da inauguração. 23.07.08, por DJMuala.

Capítulo 26
A visita de certos superiores faz suar os sovacos de seus subordinados

Enquanto as crianças ensaiam suas canções, os adultos lado a lado foram afixando tudo, os dísticos, a mesa da cerimónia, o lugar e artigos de ntsembe[3], entre outros preparativos.
Pouco depois chegou o helicóptero, que no princípio ia aterrar mesmo no pátio das salas novas; mas foi acenado para ir aterrar na sua pista habitual, no pátio das antigas salas lá mais para cima onde fomos corridos. Bertus, piloto do helicóptero, não desobedeceu. Levou o seu engenho mais para frente onde ele bem conhece. Lá para cima estavam os três carros preparados para trazer as excelências ao lugar da cerimónia de inauguração.                          
Penso que a aterragem naquele sítio das antigas salas tinha um objectivo: mostrar as excelências as instalações em decadência e as em ascendência. Mesmo Peggy Rockefeller e Rebecca Peterson (duas americanas que se impressionaram por Nhancuco e pelas salas) poderiam adorar se estivessem presente porque sabem da construção destas salas.
Helicóptero quis aterrar no pátio das novas salas de aula. Mas foi acenado para começar das salas antigas. Foto por DJMuala.

Descidos do helicóptero, as excelências chegaram às novas salas de carros. Depois de terem tido a oportunidade de ver as antigas salas. 
As excelências a chegarem no local da cerimónia de carro. 23.07.08, por DJMuala.

Depois de aterrarem no quintal das antigas salas anexas lá mais para cima, as excelências vieram em dois carros para as novas salas anexas. A expectativa era enorme nas crianças e adultos como se pode ver pela posição das cabeças. Era como se de hino se tratasse. Os nossos representantes são muito venerados por nós pelo menos cá nas zonas rurais que os vemos em ocasiões especiais como estas.

O segundo carro que trazia mais outros dignitários para inauguração das salas de Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.

Chegaram, desceram dos carros, saudaram a comunidade aí presentes, entre locais e vindouros, líderes tradicionais e outros do governo distrital e da província de Sofala, e motoristas que os esperavam.

Descidos dos carros, as excelências saúdam-se com os presentes apertando mãos a alguns. 23.07.08, por DJMuala.


Capítulo 27
Grandes personalidades podem saudar a todos apertando as mãos 

O governador é o primeiro a estender a mão para saudar cada um dos chefes, representantes e líderes comunitários aí presentes. Algumas caras dos nossos chefes locais misturam entre emoção, medo, coragem, falta de intimidade e grande honra de apertar mão aos altos dirigentes como o governador. Uma grande realização se deixa antever em cada um deles. Outros nessas situações nem conseguem levantar a cara para encarar o chefe, o seu próprio chefe. Inventa-se um alvo qualquer onde descarregar a vista e disfarçar quando se está diante de um superior. Reparar directamente nos olhos do chefe é falta de respeito!?! É uma questão cultural evitar reparar fixamente no semblante de um chefe. Só o chefe, esse sim, pode reparar longamente no semblante do seu subordinado, não é falta de respeito nenhum! Poucos são os subordinados que se atrevem a erguer a cara e encarar a cara do grande chefe com alguma naturalidade. Quanta diferença entre seres da mesma natureza, que pisam o mesmo solo, respiram o mesmo ar, nasceram da mesma maneira, todos têm uma fisionomia similar, mocambicanos de nascência, etc.
O alfabeto europeu tem ai o seu feitiço, no coração de cada um. Porquê uns se sentem mais a vontade, mais habituados que outros? O que é que faz com que cada um, sozinho, se posicione acima ou abaixo deste ou daquele? Pretenda-se monopolizar a informação!
Governador da província a saudar o presidente do conselho da escola de Murombodzi. 23.07.08, por DJMuala.

A saudação se limita a alguns chefes e aqueles cujo protocolo votou e os organizou numa dada posição.

Capítulo 28
Toca-se alguma dança tipicamente para ocasiões destas

Para criar um ritmo e evitar espaços vazios os batuques começaram imediatamente. Tudo fica bem articulado de tal modo que não existe, nestas ocasiões, momentos que não estejam preenchidos por alguma acção prevista. A cerimónia de Nhancuco seguiu a regra.
A alegria escapa enorme em nós que viemos ser visitados e entregues as nossas salas de aulas. 23.07.08, por DJMuala.

As manifestações culturais locais estão previstas para recrear e criar uma motivação apropriada ao trabalho. Sempre surpreendem o espírito por mais que alguém os tenha assistido várias vezes, têm na regra algo invulgar que chama um sorriso para as caras dos presentes.
Um sorriso forte escapa do controlo de muitos e desponta para fora de bocas. 23.07.08, por DJMuala.

Era tudo no meio de batucada e dança tradicional mais características da zona, e geralmente só leva alguns instantes, onde tudo começou a tomar corpo. Durante as danças os sorrisos escondidos espreitam fora, normalmente vive-se uma atmosfera muito quente onde nós, os locais, onde procuramos no máximo mostrar a nossa capacidade cultural folclore e os vindouros, já habituados a outras culturas diferentes da nossa, encontram uma das memoráveis graças e recreiam-se na verdade.
Tradicionalmente é comum alguma manifestação cultural típica da região em visita. 23.07.08, por DJMuala.

Pouco depois os hóspedes, presos aos seus horários rígidos, seguem para outros momentos do evento. Nós porém continuámos por alguns instantes porque afinal as danças seguem um ritmo que não se deve abandonar bruscamente antes de se atingir a última nota final.
Manifestação cultural típica da região. 23.07.08, por DJMuala.

A comitiva seguiu para o lugar onde estava o régulo Canda já preparado para presidir o tradicional ntsembe. Localmente, qualquer evento de maior impacto na vida da comunidade ou do visitante faz-se depois de se passar pelo culto de ntsembe que convida os espíritos dos nossos antepassados a fazerem parte e acompanharem a situação.


Capítulo 29
A importância do hábito as cerimónias tradicionais!

É aparente a admiração do Administrador do Millennium BIM Moçambique, provavelmente menos habituado a estes ritos africanos seguidos no interior do país, ele precisa de algum momento para aceitar e conformar-se!
Vaquina, sábio governador da província de Sofala, certamente mais habituado a estes ritos nos seus contactos com o interior, mostra-se menos admirado, assim como o próprio administrador do distrito da Gorongosa, João Oliveira, também está habituado.
Régulo Canda já preparado para presidir à cerimónia. 23.07.08, por DJMuala.                   

Pouco depois começou o culto do ntsembe. O culto local demorou mais do que os batuques e danças de recepção e saudação. O governador da província, mais sereno e iluminado e talvez por força do hábito a estes ritos nos seus trabalhos com as comunidades, pacientemente foi cumprindo o culto a seus avós (se é que partilha o africanismo) debaixo desta. Todos os presentes tiveram que submeter-se ao culto, para seguidamente aturar-se os cultos alheios a cultura africana.
Nada é mais frágil de despertar que a minha curiosidade: porque é que nestas cerimónias sempre se começa por um culto local e depois segue-se aos cultos assimilados?
Crê-se publicamente que os últimos a rir riem-se melhor, não será verdade que os últimos cultos e discursos levam a melhor que o ntsembe inicial?
Estranho ainda. A imagem feminina está presente mesmo na cerimónia tradicional. Será emancipação feminina? Será hábito local? De onde então viria a emancipação? Que cultura excluiu a mulher nalgum momento?
 Sempre quis acreditar por experiência que os donos de uma casa abrem a porta ao hóspede quer para entrar quer para sair. Por que é que o culto não se divide em parte inicial e final para deixar os donos da casa fecharem as portas? Talvez quando o hóspede é mais importante que o dono da casa então ao sair abre sozinho e fecha a porta diante dos donos! Lá foi o culto do ntsembe.

 
O ntsembe presidido pelo régulo Canda porque Nhancuco fica dentro do seu regulado. 23.07.08, por DJMuala.

É quase hábito fazer as cerimónias (ntsembe e outras públicas) de ligação com os nossos antepassados em Nhancuco debaixo de árvores ou em locais especiais como em elevações montanhosas e rios, etc.
Exemplo de um dos locais onde as nossas cerimónias tradicionais são feitas para pedir chuva. 23.07.08, por DJMuala.

Capítulo 30
Pelo menos uma bebida nunca deve faltar nas cerimónias

Parece que em muitas cerimónias oficiais ou tradicionais a bebida não pode faltar, pelo menos é o que fica evidente em todas as cerimónias locais que temos assistido. Nas cerimónias tradicionais não só os nossos antepassados bebem como também os representantes, os deputados dos presentes e ausentes, têm o direito de saborear a bebida da cerimónia.
Contrariamente aos discursos, o servir de algo consumível sempre começa com o mais velho da equipa, ou seja começa com o mais chefe dos outros chefes aí presentes naquela cerimónia.
Lembre-se que o protocolo não falta em ambos lados, é este que serve os presentes algo para consumir ou os lugares para se sentarem.  
O chefe máximo da delegação é o primeiro a ser servido pelo protocolo tradicional. 23.07.08, por DJMuala.

Mesmo os chineses se sentiriam mais orgulhosos nesta cerimónia. Os copos metálicos, timbrados atrás made in china inclusive o prato, encontraram um uso indiscutido. Uma cerimónia tradicional é uma consulta, quem se ousa refutar os intrumentos usados aí? Aceita-se tudo o que estiver preparado para a ocasião pelo médico tradicional ou convencional sem lamúrias. Nas fotos da partilha da bebida tradicionalmente preparada para a ocasião, entregou-se à fé a sorte de alguém se livrar das consequências do ritmo folclore. Utensílios domésticos (sobretudo copos e pratos) feitos a partir de barro, paus, lata, ferro, plásticos, geralmente trazem, à mente, uma imagem de menos higiénicos comparativamente aos de vidro e porcelana. Entretanto, cada grupo de cerimónias prepara a ocasião com o máximo das suas condições partilháveis com hóspedes. Não interessa a emoção expressa nas caras em reacção aos hábitos. Que encontros humanos nunca produziram conflitos implícitos ou explícitos? O importante estava a andar como se esperava. E os espíritos dos antepassados da zona aceitaram muito bem esta cerimónia e reagiram positivamente (como de hábito) na ora do ntsembe, como adiante se poderá ler.


O Administrador do Millennium BIM precisa de familiarizar-se e por isso é incitado a perceber a regra. 23.07.08, por DJMuala.

Assim que o Millennium BIM vai construindo mais infra-estruturas sociais no interior das zonas rurais, o seu Administrador vai frequentando e aprendendo as regras tradicionais nos cultos folclores. A natureza reserva sempre oportunidades de cada um se preencher com alguns elementos em falta, ja que ninguém sabe tudo.
Já percebeu a regra e segue normalmente a regra. Não interessa a qualidade de bebida, mas o seguir da norma. 23.07.08, por DJMuala.

O dono da casa aqui é último a ser servido. O protocolo já foi bem instruído e não vai falhar ao servir. É uma questão de hierarquia nestas personagens tipo. Os mais velhos primeiro, depois o mais novo em cada circunstância.
Contrariamente ao habitual, aqui o dono da casa é o último a consumir. 23.07.08, por DJMuala.

Como esta dito antes, todos os cultos do dia envolveram alguma bebida, no ntsembe tradicional serviu-se vinho, na abertura do dístico serviu-se o champanhe, outro tipo de vinho. A diferença que consegui notar é que na cerimónia tradicional, primeiro serviu-se aos nossos antepassados depois serviu-se aos vivos. Enquanto que na cerimónia oficial, só os vivos tomaram sem servir aos seus avós. Aliás, no ntsembe o jovem protocolo serviu aos hóspedes. Ao se brindar o champanhe não vi, pelo menos, o régulo a ser servido uma taça de champanhe! Fica para próxima vez.

Findo o ntsembe seguiu-se para a inauguração das salas anexas de Nhancuco. Saindo de um extremo das salas onde se fez a cerimónia de ntsembe para onde está o dístico que o governador da província vai inaugurar.

Deslocação para o local onde foi fixado o dístico de inauguração. 23.07.08, por DJMuala.


Capítulo 31
A fase oficial da cerimónia de inauguração

A inauguração, o pano roxo está nas mãos do governador. Mas há uma barreira de pessoas que impede boa visualização nesta foto. Esta foi a parte mais rápida porque viria a ser complementada pelos discursos de todos que deviam dizer algo na ocasião.

O governador da província inaugura as salas descerrando o pano roxo que tapava o dístico. 23.07.08, por DJMuala.

Depois do governador retirar o pano roxo, a comitiva deslocou-se um pouco para a ponta frontal das salas onde se teve brindou o champanhe. Assim, estava inaugurada aquela a instituição que em 2009 viria a funcionar como uma escola independente.
Hendrick Pott (representante do PRPNG no dia) debaixo do dístico. 23.07.08, por DJMuala.

Uma aluna local se encarregou de assegurar a travessa contendo os copos de vidro para o champanhe. Onde está a comunidade toda que esteve no ntsembe há poucos minutos antes desta fase? As caras aqui mudaram de aspecto. De facto, as circunstâncias mudam sempre e porque é que as pessoas não seguiriam o fenótipo situacional? Do melhor se faz a conquista e nunca do habitual ou do pior! (DJMuala).
Governador Vaquina abrindo a champanhe diante de um público atento para logo aplaudir. 23.07.08, por DJMuala.


Como de regra, há uma grande salva de palmas quando  se abre o champanhe. Os sorrisos não gazeteiam mesmo nos que se pretendam mais sérios que os outros nestas ocasiões. Aí a seriedade se relativiza ou se torna mesmo ridícula. Festa é festa e festa é alegria e alegria reconhece o sorriso como companheiro convidado.
Quando chefiar é servir e não ser servido os servidos legitimam o poder do servente por consentimento. 23.07.08, por DJMuala.

Uma responsabilidade humilde faz do governador indiferente aos aplausos, e, enquanto os outros gaudeam-se, Vaquina continua a servir nas taças o líquido que muitos anseiam saborear. As glândulas salivares activadas pelo arco/acto reflexo secretam com certeza. Alberto Vaquina está a mostrar o conceito que tem de ser ministro (chefe): ser servo e servir. Não o contrário, ser ministro para ser servido! É de louvar este exemplo.
A aluna não deve entender bem isso de champanhe, portanto, o seu acto reflexo certamente não estará activado.
Cada um dos presentes, com direito, pega na taça mais próxima enquanto uns esperam ser servidos e outros ainda só conseguiram ver a garrafa de longe.
É regra que a minoria constitui, com ou sem razão, a elite, abençoada, com plenos direitos sobre os outros. Só não há revoltas onde o poder é consentido e jamais imposto. Ou quando tal poder não é entendido como doméstico, mas como ‘costuma ser assim mesmo’, ‘eles é que sabem’, etc.
Espero que os pedreiros, carpinteiros, e todos os que participaram na construção também se sintam agradecidos pela cerimónia.
Maria João Barbosa vai fotografando, depois de ter organizado o evento todo!
Então cada qual pega na sua taça e a Maria (organizadora) fotografa. 23.07.08, por DJMuala.

Cada qual com a sua taça, é a hora do brinde. E daí os sorrisos são contagiosos mesmo para indivíduos distantes e com razão. É tudo moderno e trasmite muita higiene. Os copos são de vidro e bem transparentes, mesmo de longe, e estiveram numa travessa de esmalte. A dialéctica se faz pelo melhor e nunca pelo costumeiro ou ... nosso? Baixo? Pior?
A fase mais venerada do culto. 23.07.08, por DJMuala.

Capítulo 32
Que concentração dos alunos abaixo?
Que curiosidade? Gostariam de serem servidos a bebida? Duvido. Queriam ver como as caras dos com taças se mostrariam ao engolir o champanhe? Para que? Comparar as mesmas caras quando engoliam o vinho comum? Duvido porque eles não estiveram no ntsembe, foram mantidos nesta posição até a comitiva se dirigir a este lugar. É um olhar vazio? Duvido. Talvez é a imagem dos vários dignitários aí presentes e dos que se movimentavam, de um lado para o outro, a filmar ou fotografar que os atrai.
Aqui os alunos mais conhecem os professores e poucas vezes um enfermeiro. Encontram o enfermeiro quando vão ao posto de saúde. Então quem seriam todos aqueles aí juntos ao governador, conhecível porque foi quem abriu o pano roxo que encobria o dístico. Já se sabia que o governador viria e seria ele destapar o dístico. Os outros seriam todos professores ou enfermeiros. Estas são as duas profissões bem conhecidas pelas crianças. Como também são as profissões que elas aspiram ser, ou então ser director quando grandes. Ser director é entendido como profissão e nunca como ocupação pelas crianças.
Na verdade, estes ganham as salas e a honra, pois não têm idade para champanhear ainda! Ganham por toda a vida quando poderem aproveitar das salas devidamente do que do champanhe volátil.
Seguras que as salas ficam consigo, as crianças não reclamam o champanhe nem o director Sábado. 23.07.08, por DJMuala.

Capítulo 33
A volta nas salas
Não dá para acreditar que os vinhos provados, nas duas cerimónias, tenham alguma influência significativa nas cabeças. Não se tratou de beber de festa, mas de beber de cerimónia, um cumprir das regras habituais em cerimónias idênticas. As novas e lindíssimas salas deveriam ser visitadas para se certificar o que veio fazer. Não é suficiente ver unicamente o aspecto externo quando se pode entrar sem despesas e visualizar o interior. Então, começando do corredor das salas, o governador e mais uns poucos vão entrando e saindo de uma sala para a outra.
Tudo começara a dar bem, desde a cerimónia de ntsembe.
De sala em sala, dá-se um olhar por todas elas com e sem carteiras ainda. 23.07.08, por DJMuala.

Algumas salas não tinham ainda carteiras. Estavam por chegar. Vinham no camião que se enterrou a meio caminho perto das salas. Depois seriam arrumados nas devidas salas.

As carteiras, que tanto lutaram todos os anos passados até se atingir o estado da novas salas, terão que ser respeitadas, usadas para outros fins. Utilidade para as carteiras antigas (os tijolos) não irão faltar com certeza. Querendo como não, diante de um progresso a verdade é irreversível, estas carteiras, tão saudosas pela boa companhia dos anos já no pretérito, deverão dar espaço para as novas carteiras. Crises sempre existirão quer por causa dos hábitos já criados como se sentar em tijolos rudes, rugosos, próximas do chão, tijolos que rasgam facilmente a roupa, mas que sofrem pouco atrito. Quer porque as novas carteiras são mais altas, escorregadias, mais cómodas e bem preparadas como carteiras. Estas não estão mais a assegurar. São verdadeiras carteiras e vão aturar o hábito dos seus clientes.
Antigas salas e carteiras de Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.

Antigas salas e carteiras de estudantes. A comunidade, sozinha, conseguiu fazer as salas acima que enfrentaram as necessidades de escolarição. Seu estado físico justificou a ida para lá descalço, com roupa menos higiénica e de preferência calções de jeans, pois o jeans, preparado originalmente para prisioneiros nos Estados Unidos, sempre teve uma resistência superior, capaz de aturar com os tijolos.
Com certeza, se os rapazes tivessem opção entre terminar o ano lectivo nas antigas salas ou nas novas, muitos votariam a favor das novas, como ainda se poderão ver a disfrutar inaugurativamente as suas carteiras logo que puderam mais a frente deste texto.
Estudantes que deixam as antigas carteiras graças a PNG que um dia trouxe alguém do BIM que acabou por ser uma ajuda para a comunidade de Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.
Embora as caras destes alunos acima não se mostrem muito sorridentes devido as atenções que lhes foram antecipadamente dirigidas no sentido de evitarem perturbar a cerimónia, muita alegria dos meninos está camuflada. Vai arrebentar para fora, como pus, na hora que acharem que não estarão sob controlo de uma mais velho por frente.
O desafio de todos terem de passar a usar, pelo menos, chinelos, roupa mais limpa e decente, é TPC para os pais. Estes é que terão de vender o pouco milho que restara no celeiro para a base alimentar da família. Deve-se vender este milho para conseguir dinheiro de comprar chinelos, alguma roupa diferente, etc, que seus filhos levarão para as novas salas em Janeiro de 2009. A família que tiver criações de animais de pequena porte como galinhas, patos, cabritos, porcos, etc, estará mais aliviada. Poderá deixar de vender o milho reservado para alimentar a família e vender parte da criação. Assim também se costuma obter dinheiro para os vários fins cada vez emergentes por aqui no interior nesta viragem súbita da economia feudal para a do mercado.
Mandar os filhos para uma escola tão bonita como esta já faz parte da vontade de cada pai. É então orgulhoso se cada pai consegue vestir decentemente o seu filho. Mesmo o professor vai prestar atenção e respeitar um aluno que se apresentar limpo e asseado. Este filho que o pai ainda espera que venha a ser professor, director, enfermeiro.  
Entretanto, os meus amiguinhos não estão totalmente isentos de responsabilidades e esforços em relação a postura física. Através da orientação do professor, os alunos terão a obrigação de aprender a limpar as salas com água, aprender a usar as casas de banho convencionais sitas atrás das salas, para além da aculturação do alfabeto e números que se espera ser o pano do fundo.
Novas carteiras para os alunos de Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.

Sala e carteiras fruto de apoios... Influenciar as comunidades com outras formas de educação que se desejam implica demonstrar mais do que discursar. Assim mais do que sensibilizar com palavras persuadiu-se com acções. Qualquer pai já sente a vontade de enviar sua criança para estas salas. Por mais que as crianças saíam das suas casas sem antes terem tomado o pequeno almoço, para uma escola onde não existe lanche escolar, nem uma cantina, a motivação inicial de querer sentar-se nas carteiras novas vai substituir a fome crónica nos estómagos deles.
Quem pensaria em pôr uma cantina num sítio de pouco acesso aos transportes.Como é que manejaria o carregamento das mercadorias da tal cantina. Quantas vezes teria que percorrer tantas incertezas do caminho estreito, lomboso, pedregoso até Nhancuco. Associado a isto está a própria comunidade que precisa de perceber isso de cantinas, isso de dar o escasso dinheiro as crianças para irem gastar na escola.
A entrar e sair, a delegação viu o estado das salas todas e o seu conteúdo. 23.07.08, por DJMuala.

A evolução dos quadros das antigas salas anexas a novas salas anexas.
 
Antigo quadro das antigas salas anexas. Por Bridget
O tipo de quadros das novas salas. 23.07.08, por DJMuala.


Capítulo  34
A fase dos discursos vários sobre a inauguração

Não basta só fazer nem a vontade de só fazer. É preciso falar alguma coisa. Procurar convencer por palavras. Depois da visão (mais característica do comportamento dos homens) das salas, seguiu-se a característica mais feminina – audição dos discursos– canal privilegiado dos políticos. Então os políticos são como as mulheres ou aproveitam-se das mulheres?
Depois da visualização das salas seguiu-se para a mesa. Podemos chamá-la de mesa de discursos tendo em conta o que aí se tratou. O protocolo, a directora dos serviços distritais de educação e cultura, juventude e tecnologia da Gorongosa, Joaquina de Figueiredo, distribuiu os lugares na mesa.
Geralmente o presidente da cerimónia senta-se no centro da mesa, tendo os segundos mais destacados de cada evento a sentar-se nas alas direita e esquerda respectivamente.
Há sempre algum papel de suporte à memória a sair das pastas para a mesa.
Cada um encontra seu lugar na mesa de honra. 23.07.08, por DJMuala.

O administrador da Gorongosa foi o primeiro a ler a sua mensagem relatório sobre a situação educativa no distrito, a subida para 67 estabelecimentos de ensino com estas quatro salas, entre outros pontos importantes.
João Oliveira a ler sua mensagem. 23.07.08, por DJMuala.

Depois senta esperando que a protocolo (Joaquina de Figueiredo Domingos) passe a palavra para um outro dignitário.

João Oliveira senta-se olhando para Joaquina. 23.07.08, por DJMuala.

Joaquina Domingos sem hesitar passou a palavra ao representante do BIM.
Este levanta-se e apoiando-se no seu papel, se discursa sucintamente. Constrói uma breve história do surgimento da ideia de construir salas. Diz que foi há um ano e meio que a situação começou a constituir preocupação no BIM. E passo-a-passo foi-se efectivando o sonho que no dia 23 de Julho uniu personalidades na comunidade de Nhancuco para inaugurar oficialmente.

Administrador do Millennium BIM discursando-se. 23.07.08, por DJMuala.

O administrador representante do Millennium BIM entregou as salas para a comunidade reiterando porém, que todo o cuidado e manutenção são da responsabilidade da comunidade. Ao BIM coube construir e a comunidade cabe o uso, a manutenção, conservação daquilo que chamou de património da comunidade de Nhancuco.
Armando Jossias (coordenador da zip de escolas da zona) foi o intérprete que resumidamente dava a súmula aos que precisassem.
Armando Jossias, coordenador da zip de escolas da zona traduzindo os discursos. 23.07.08, por DJMuala.

Ninguém nestes contextos é superior linguisticamente. Muitos dos eruditos em línguas europeias são leigos em línguas locais enquanto que muitos dos eruditos em línguas locais são igualmente leigos ou neófitos em línguas europeias.

Joaquina deu por fim a palavra ao governador.
O Governador Vaquina iniciando o seu discurso sobre a cerimónia. Nhancuco 23.07.08, por DJMuala.

Partindo da regra comum de viva viva, o governador teceu o seu discurso mais longo que os dos primeiros dois.
Lembrar a todos que as salas surgem no âmbito dos esforços de conservação do PRPNG.
Reconheceu que foi o PRPNG que criou a oportunidade de trazer para Nhancuco representantes do BIM. Estes, depois de ver e mexidos a sensibilidade pelo estado péssimo das antigas salas anexas, tudo fizeram para a construção de salas novas e convencionais ora em inauguração.
O governador reconhece que é a conservação dos recursos naturais da Serra é muito importante. A Serra, fonte dos cursos de água e riachos que dão mais vida nos terrenos abaixo dela, rica em paisagem e espécies que as pessoas amantes destas belezas, indo ao encontro destes bens, chegam a ter consciência das necessidade que as comunidades residentes têm e ajudam. Deu como exemplo o Millennium BIM.
Vaquina acredita que é nessas salas onde sairão os futuros profissionais, membros do governo, líderes, ambientalistas de amanhã.
Lamenta o reduzido número de alunas nas escolas e pede para que os pais aceitem mandar também as filhas para estudar.
Disse que as crianças já não iriam mais sentar-se em troncos porque já há carteiras.
Para Vaquina as salas é também para adultos que podem ir frequentar a alfabetização. Com a alfabetização os adultos seriam capazes de aprender a ler e escrever, compreender as mensagens transmitidas através da rádio, dos extensionistas e colaborar.
Lembra palavras do régulo Canda segundo o qual as salas serão importantes se os pais mandarem as suas crianças (meninos e meninas) para estudar.
Continuação do discurso. Nhancuco 23.07.08, por DJMuala.

Fazendo das palavras do representante do BIM suas, Vaquina confirma que a construção das salas já foi efectivada.
A protecção e conservação, saindo do contexto de recursos naturais e atingindo a manutenção do imóvel, não perdoaram o cuidado a se ter com as portas e janelas que as novas salas têm em contraste das antigas salas cujas janelas e portas não precisavam de óleo!
Portas e janelas das antigas salas de Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.
           
Segundo o governador, se uma porta ou janela das novas salas estiver a fazer barulho temos de lembrar em pôr óleo:
Uma das portas das novas salas construídas pelo Millennium BIM. 23.07.08, por DJMuala.


Qualidade de janelas das novas salas construídas pelo Millennium BIM em Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.

Capítulo  35
A Escola mãe de Murombodzi

Conversando com Sábado Paulo Dombe, director da Escola Primária de Murombodzi, escola da qual as quatro salas hoje inauguradas em Nhancuco são anexas.
Para já a escola, na sua globalidade e incluindo as suas salas anexas em Nhancuco e Nhadinde, funciona com 718 alunos,  dos quais 217 são meninas e 501 rapazes.
Nesta escola ensina-se da 1ª a 5ª classes.
Nas salas anexas em Nhancuco ensina-se da 1ª a 4ª classe.

Sábado Paulo Dombe, director da escola, começou a trabalhar na escola de Murombodzi, escola mãe das anexas de Nhancuco e Nhadinde, em 2002. Veio transferido para esta escola.
Director Sábado Paulo Dombe ao lado da escola mãe em Murombodzi. 23.07.08, por DJMuala

Na altura as salas anexas de Nhancuco não tinham retomado as suas actividades porque um professor que esteve a leccionar aí, antes da vinda do director Sábado, abandonara as salas anexas devido ao reduzido número de alunos que aderiam as aulas.
Quando Sábado chega a escola mãe, teve a grande missão de reabrir as salas anexas de Nhancuco em 2005 com apenas um professor, o José Lucas Madauia.
Assim pouco a pouco, com ajuda de outros líderes comunitários a exemplo dos senhores Silvestre Braga, fumo Rondinho, Amadeu, Sábado e o seu único professor na altura conseguiram persuadir a comunidade e ter os primeiros alunos. Começou como de hábito com a 1ª classe.
Em 2006, introduziu a 2ª classe. Em 2007 introduziu a 3ª classe e em 2008 introduziu a 4ª classe e em 2009, com a melhoria e aumento de salas de aulas graças ao Millennium BIM e segundo a vontade expressa pela directora dos Serviços distritais de Educação e Cultura Juventude e Tecnologia da Gorongosa, será a vez de introduzir-se a 5ª classe em Nhancuco. Nhancuco que hora conta com um universo de 270 alunos, dos quais 63 são meninas, deu os primeiros passos na história de infra-estruturas modernizadas.

Que idade sabe e consegue esperar?
Os alunos ganharam a ocasião de ensaiar sentando-se nas novas carteiras logo que os grandes se preocuparam com outros assuntos. Pela primeira vez, eles vão poder sentar-se em carteiras dignas, em salas com um tecto convencional, quadros bons, paredes modernas e pintadas.
Nossos filhos emocionados de alegria trazida pelo Millennium BIM não resistiram à tentação de inaugurar as suas carteiras já no dia. 23.07.08, por DJMuala. 

As crianças e professores de Nhancuco iniciam assim e hoje uma data diferente na sua longa história de infra-estruturas para o ensino aprendizagem.

O director Sábado não parou na sua missão de expandir o acesso de ensino às crianças da zona em que o Ministério da Educação lhe confiou a missão de direcção da escola. Para além de Nhancuco, Sábado abriu mais outras salas anexas em Nhadinde, uma outra comunidade da mesma zona.
Nas salas de Nhadinde as crianças podem fazer 1ª e 2ª classes.

Capítulo  36
Afectação de professores na escola pelo Director Sábado

Em Nhadinde Sábado colocou um professor porque outros dois partilham quatro turmas em Nhancuco.
            Já na escola mãe (Escola Primária de Murombodzi) o efectivo de professores é de três, contando com o próprio director da escola que também dá aulas a 2ª e 3ª classes nesta ainda escola capela de Murombodzi.
                             Vista lateral da sala capela da escola mãe de Murombodzi.        Vista frontal da sala capela principal da escola mãe.

Ao todo são 6 professores e um auxiliar afectos na escola de Murombodzi:

Ø      Amélia Lídia Mateus, proveniente da Beira, docente de N3, formada na ADPP em Nhamatanda, lecciona 1ª e 4ª classes na escola e sala mãe de Murombodzi.

Ø      Isabel Manuela, proveniente da Beira, docente de N4, concluiu a 12ª classe do ensino geral na Escola Samora Machel da Beira e depois, buscando ter uma formação profissional, teve de frequentar os novos cursos de formação de professores em curso em Moçambique. Isabel fez o curso comummente chamado de 10ª +1, o que significa que alguém com 10ª feita, só pode ir ao Instituto fazer um ano de aprendizagem das técnicas e práticas de ensino, o que a professora Isabel Manuela optou em seguir, mesmo depois de ter concluído a sua 12ª classe que lhe confere o N3. Esta professora está afecta na escola mãe de Murombodzi e lecciona 2ª e 5ª classes. Talvez Isabel volte a negociar a validade do seu certificado do nível médio para passar a ganhar um salário mano do actual e usufruir do subsídio de isolamento e horas extras.

Ø      Sábado Paulo Dombe, digno director da escola, concluiu a sua primeira formação do professorado em 16 de Dezembro de 1988, no CFPP-Inhamízua, durante três anos. Depois frequentou o curso à distância para nível médio no IAP da Gorongosa cujo certificado lhe foi conferido em 06 de Junho de 2008. Sábado é professor há mais de 20 anos e tem quase 12 anos a desempenhar cargo de director em escolas diferentes e já vem como director da escola de Murombodzi desde 2002. Agora como docente de N3, o director lecciona 2ª e 3ª classes. O Ministério da Educação sempre cria condições para os seus profissionais irem aumentando as suas competências pessoais e laborais através de formações e capacitações a vários níveis, o que acaba melhorando até a situação salarial dos mais carentes.

Ø      Perino Peri, docente de N4, veio transferido de Inhaminga para Gorongosa e actualmente professor de Nhancuco. Perino não se beneficiou ainda de nenhuma formação do professorado prolongada, mas seminários e workshops que o tornaram capaz de leccionar devidamente. Este é o primeiro ano que Perino lecciona em Nhancuco a 1ª e 4ª classes. Com a determinação e dedicação para melhorar a qualidade de ensino em toda a Gorongosa, os serviços distritais de educação juventude e tecnologia um dia se vão lembrar de incluir Perino Peri no grupo dos professores apurados para o seu IAP da Gorongosa, onde os professores de N4 como Perino aumentam o seu conhecimento a nível das técnicas de como ensinar e adquirem um certificado profissional de qualidade e a N3.

Ø      Matias Armando, docente de N4, também sem formação do professorado prolongada, mas seminários e outras capacitações que o qualificaram. Estudou o nível básico na Escola Industrial da Beira e 2008 é o seu segundo ano a trabalhar em Nhadinde onde lecciona 1ª e 2ª classes. Também Matias não escapará o sorteamento para o IAP da Gorongosa. É só viver um pouco mais para o tempo lhe fazer a justiça e mostrar a estratégia que os serviços distritais de educação e cultura estão a utilizar na selecção das prioridades ao seu IAP.

Ø      Manuel Fernando, docente de N3, formado no Instituto Nacional de Educação de Adultos (INEA) na Manga-Beira. Há dois meses que Manuel está a trabalhar em Nhancuco onde lecciona 2ª e 3ª classes. Pessoalmente espero que este profissional qualificado para a Alfabetização e Educação de Adultos possa ser uma honra para nós, os adultos desta comunidade que muito precisamos de alfabetização. Em Nhancuco, com as nossas novas salas de aulas que o Millennium BIM construiu para nós, faremos da alfabetização algo sério. E se um dia conseguirmos painéis solares, até passaremos a frequentar as aulas de noite. Nhancuco vai ser aquele espaço em que muitos não quererão perder.

Ø      Rui Ernesto Belo, auxiliar, que desempenha funções de secretaria na escola mãe e circula pelos dois sítios com salas anexas da escola (Nhancuco e Nhadinde). Rui é o precursor que percorre os três lugares fazendo os seus serviços de secretaria nesta zona.


Para 2008 funcionam na escola mãe de Murombodzi seis turmas divididas conforme as descrições de cada professor/a acima. Estas seis turmas da escola mãe frequentam as aulas em três salas de aulas, uma das quais é a sala capela principal. As outras salas da escola mãe vêm abaixo:
O exterior das outras duas salas da escola mãe de Murombodzi. 23.07.08, por DJMuala.

 
Carteiras dentro da sala capela da escola mãe de Murombodzi.   Uma carteira por uma tem este aspecto. 23.07.08, por DJMuala. 
 
As carteiras de uma das duas salas de matope da escola mãe.  Uma das secretárias do professor numa duas salas da escola mãe.

Em Nhancuco existem quatro turmas e em Nhadinde duas.
Em média cada turma tem sessenta alunos.





Capítulo  37
Tendência actual de ligação escola-comunidade

A escola tem um Conselho de Escola constituído por alguns membros da escola e da comunidade local.
O Conselho, entre tantas áreas da sua actuação, conta com as seguintes comissões:
Construções e produção;
Saneamento do meio;
Cultura e desporto;
Género e HIV/SIDA.

O presidente do Conselho da Escola é o senhor João Xavier com mais de oito anos a exercer o cargo. (Por desenvolver depois).

Capítulo  38
Mais uma Mitologia?

Estamos cada vez mais convictos localmente que sempre que se faz uma cerimónia tradicional bem acolhida pelos espíritos sempre algo estranho deve mexer com a atenção dos presentes. Desta vez foi a queda brusca e ruidosa do mastro que assegurava a imagem do Presidente Guebuza presa em vidro.
Fixação segura da imagem do Presidente Guebuza, que depois viria a sofrer uma queda misteriosa em pleno ntsembe. 23.07.08, por DJMuala.

A imagem beijou o chão em plena oração de ntsembe e o tímido vidro perdeu como de sempre que um vidro cai, as suas propriedades uniformes.
Os esforços visíveis na fixação da imagem só justificam que a sua queda mais tarde, durante o rito de ntsembe, só nutre a consciência tradicional segundo a qual se a cerimónia for bem acolhida, então algo estranho que vai despertar a atenção de todos presentes terá que acontecer. E esta cerimónia de inauguração das quatro salas de aulas não fugiu da regra.
Uns perto do incidente deram-se o trabalho de recolher os restos de vidros e dar-lhes outros destinos enquanto o ntsembe voltou a dominar a atenção dos fiéis ao culto africano. É assim na nossa África sempre misteriosa e só pesará para a consciência de quem não conhece a realidade deste berço da humanidade.

Capítulo  39
Se tiver de participar numa cerimónia de ntsembe na zona da Gorongosa ...

Lembre-se que durante o ntsembe todos, numa direcção devem, pela força do hábito, se ajoelhar, se acocorar ou se sentar no chão. Nalgumas vezes, poderá ser aconselhado a tirar sapatos, como lhe deveria ser dito, antes, a cor de roupa a usar. Evita-se a vermelha quer por fora ou por dentro do corpo. E para se pôr cada vez mais longe de violar os hábitos locais, evite mesmo usar o amarelo ou o laranjado, como lhe quiser chamar. Use cores menos fortes ou vivas. Sente-se como os donos o fazem. Se for alguma excepção, eles terão o cuidado de informar. Só os dignitários, jornalistas e fotógrafos são sempre marginais a esta regra. Nunca se ajoelham. Mesmo na vida espíritual existem excepções.
Dª Maria João Barbosa, viveiro de plantas do PRPNG, cerimónia de ntsembe em Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.

Assim se veneraram os espíritos dos nossos antepassados para acompanharem com sucessos a missão das salas.

Capítulo  40
Em súmula dos discursos, deu-se mais atenção crises físicas 

Conservação foi a política do dia. Devia-se conservar...deve-se conservar..
O governador logo que iniciou o assunto da conservação, ocorreu-me um pensamento imediato, típico de um aluno voluntário diante de uma explicação cadenciada de um professor numa sala de aula: quer falar de conservação das novas salas. Quis completar-lhe o pensamento em voz alta. Hesitei. E tive a sorte de não cair num grande erro, dos vários que sempre cometo a cada instante. Era a realidade mais próxima da minha imaginação, a conservação das salas. Fiquei traído.  Ele não tardou a completar sozinho o seu pensamento – conservação dos recursos naturais que ainda restam na Serra da Gorongosa. O reflorestamento, o estanque do abate de árvores, o estanque das queimadas descontroladas, o estanque de tudo o que não irá contribuir para que mais turistas entrem para Nhancuco, foram temas bastante focalizados. Seguiu-se depois a conservação das salas, das portas, das janelas.
Imaginei, imaginei o desenvolvimento do discurso. No fim acreditei que o governador deduziu. Da conservação mais geral, dos recursos que convidam amantes da natureza de todo o mundo para a conservação dos vestígios que tais amantes decidem deixar para as comunidades a voltas dessas riquezas. Grande Alberto Vaquina. Grande discurso ecologista. E quem disse que ouvir não agrada. Todos nós temos algumas características do outro género. Basta acertar-nos na circunstância certa, com um discurso certo que será bem recebido como se recebem as novas salas. São verdades que não mexem com a desinteligência de um singular, então podem deixar de ser ofensa. Quem nunca ofendeu? Ainda que não seja intencional?
Agradou ouvir tais discursos bem estruturados neste encontro popular enquanto contextualizados com a cerimónia da inauguração das salas.

Últimas palavras do discurso do governador antes de partirem de volta. 23.07.08, por DJMuala.


Capítulo  41
O não dito

Que a escola é boa como é má para a cultura tipicamente local. Que a nova escola vai substituir a antiga como tudo novo em relação ao antigo. Que as crianças, depois de provarem o champanhe por escola evitarão tomar a cabanga, nipa, hálua, pombe e nalguns casos mesmo o vinho salvo se for exportado. Que a escola faz com que os filhos não construam suas casas no quintal do clã. Prefiram viver na vila, nas cidades onde alguns, quando os pais os surpreendem em convívios com amigos da elite sofrem a tentação de fingir não conhecer seus pais. Que foram macaiaias, empregados, vizinhos, parentes longíquos devido a dificuldades de apresentá-los aos seus amigos finos e perfumados. Quantas histórias de despreso dos pais não se ouvem contar de pais mal tratados pelos filhos.
Então, há que conservar também o não físico, o cultural, o moral, o sentimental, etc que igualmente tem valor turístico e pode trazer oratórias onde os velhos contarão histórias que ensinam conjuntamente com os professores, as experiências locais de enfrentar a vida analfabeta.




Capítulo  42
A recolha

A cultura moderna anda sempre presa aos horários. Tudo se faz num horário bastante rigoroso. Por isso mesmo não podemos ter as nossas excelências entre nós hoje em Nhancuco por todo o dia. As suas agendas obrigam-nos a partir tão urgente deixando-nos muito a desejar para o convívio, as conversas mais detalhadas.
Depois, o governador, em nome da população de Nhancuco, ofereceu ao representante do Millennium BIM o presente abaixo:
O cabrito e os cachos de bananas foram o presente dado ao representante do Millennium BIM em Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.

Admitimos ficar sozinhos para o resto da tarde enquanto os convidados pouco a pouco partiam de regresso para as suas proveniências.
O regresso da delegação que esteve presente na cerimónia de inauguração das quatro salas em Nhancuco. 23.07.08, por DJMuala.

Alguns convidados locais e da delegação distrital ficaram por uns instantes e brindaram a sua vez. Durante os brindes da cerimónia do ntsembe e do champanhe, após a inauguração da placa, estes convidados não brindaram. Chegada a sua vez, estes não hesitaram em mostrar a sua atitude. Sem muita formalidade, cada um pegou no que pôde para si. Por que é que as pessoas adoram drogar-se?
Sempre me perguntei: por que é que a invenção da mulher sempre valeu mais do que a do cientista Galileu?
Festinha dos que não beberam durante as duas cerimónias espírituas.

Dª Maria João Barbosa, no meio de alguns principais da escola. 23.07.08, por DJMuala.

Dª Maria João Barbosa, no meio, à esquerda director Sábado, Fabião João Prato (secretário do conselho da escola). Logo à direita da Dª Maria Barbosa estão Perino Peri (professor em Nhancuco), Rui Ernesto Belo (auxiliar da escola), João Xavier (presidente do conselho da escola)

Em baixo, DJMuala a colher algumas emoções do dia 23 de Julho de 2008 no seio de algumas personalidades locais. A animação do dia é enorme e difícil de descrever aqui.

DJMuala recolhendo algumas emoções do dia nos locais em Nhancuco. 23.07.08, por Perino Peri.



[1] Tchiacutchena localmente refere-se as bebidas de álcool puro embaladas em recipientes plásticos de 220 ml com tampas vermelhas e líquido branco destiladas industrialmente.
[2] Chinde localmente refere-se a parceiro/a ocasional fora da relação conjugal oficial.
[3]  Ntsembe é um culto tradicional local feito aos espíritos dos antepassados para que estes possam abençoar e coroar de sucessos uma determinada actividade.

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